I SÉRIE — NÚMERO 103
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para a proibição das armas nucleares, o que faria sentido, seguindo esta Constituição, era que Portugal fosse
dos primeiros países a ratificar este Tratado. Quem é pelo «desarmamento geral, simultâneo e controlado» não
pode ter dúvidas de que lado é que se coloca nesta matéria.
Sabemos que, curiosamente, Portugal está a protelar a ratificação deste Tratado e, apesar de 70 países —
repito, 70 países! — já o terem assinado, Portugal não teve intenção de seguir esse caminho com o Governo
anterior, com as posições do PSD/CDS, e com este Governo também não tem intenção de o seguir. O motivo
para isso é que o atual Ministro dos Negócios Estrangeiros considera — e veremos se não o fazem também,
aqui, PSD e CDS — que, mais do que a Constituição, o que vale é a pertença à NATO (North Atlantic Treaty
Organization). É em nome dessa aliança militarista, à qual Portugal pertence, que dizem que não podem assinar
um tratado para o fim das armas nucleares.
A escolha é óbvia: ou o País se leva a sério e cumpre a sua Constituição ou, afinal, o País não se leva a
sério e não cumpre a sua Constituição para ser subserviente aos interesses de outros.
Da parte do Bloco de Esquerda não há dúvidas! Não há dúvidas, porque saudamos a Constituição da
República Portuguesa, que é absolutamente justa no que defende para Portugal e na forma como coloca
Portugal no mundo, em defesa de um mundo pacífico, pelo desarmamento generalizado, possibilitando-nos ter
um papel diplomático para exigir esta conduta a outros, e porque recusamos esta ideia de que, afinal, Portugal
é subsidiário de uma qualquer intenção imperialista que vê nas armas nucleares uma forma de fazer valer a sua
força.
Veremos como é que se colocam os partidos nesta Assembleia. Quando se fala de patriotismo e de
soberania, é neste tipo de escolhas que se vê, afinal, quem é que está do lado de uma nação soberana, quem
é patriótico perante Portugal, ou quem é subserviente aos interesses de outros Estados.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado André
Silva, do PAN.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Tratado de Proibição das Armas
Nucleares representa o primeiro acordo internacional legalmente vinculativo com a finalidade de proibição plena
das armas nucleares. Uma guerra nuclear, cenário perfeitamente possível visto que existem nove países
declarados que detêm este tipo de armamento, faria perigar o equilíbrio do planeta e da humanidade, abarcando
a capacidade de matar e de ferir imediatamente dezenas de milhares de pessoas, de provocar danos
permanentes e inultrapassáveis nos ecossistemas, de reduzir as temperaturas globais e de determinar a
escassez de alimentos no mundo.
Esta temática traz preocupações várias ao PAN, não se cingindo à eventual agressão da vida ou da
integridade física das pessoas ou à destruição material de infraestruturas várias. As repercussões ambientais
propiciadas pelo armamento nuclear seriam profundas. Pensemos nos resíduos radiativos, também conhecidos
por «lixo atómico» e um subproduto das armas nucleares, que representam um perigo tremendo para o meio
ambiente, dada a inerente radioatividade, tóxica e cancerígena, mesmo que em diminutas quantidades.
Afigura-se, assim, como fundamental o cabal desarmamento nuclear, constituindo este um elemento garante
da paz e da segurança mundial, bem como da sobrevivência de todos os ecossistemas, o que pode e deve ser
potenciado pela assinatura e ratificação do Tratado de Proibição das Armas Nucleares.
Termino, enfatizando que Portugal é o único país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que não
assinou e que não ratificou este documento.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Passamos ao Grupo Parlamentar do Partido Socialista. Para
uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Lara Martinho.
A Sr.ª Lara Martinho (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por saudar os mais de 13 000
peticionários que se dirigiram a esta Assembleia, exercendo um tão importante direito de participação política
com a apresentação desta petição.