I SÉRIE — NÚMERO 107
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Ouvi-o aqui a fazer um balanço positivo do encontro de posições durante esta Legislatura. O Bloco de
Esquerda também faz esse balanço positivo, ainda que com algumas limitações — é natural que assim seja. O
Ministro das Finanças, por sua vez, tem dito também, em tom de balanço, que cumpriu a trajetória orçamental
que estava delineada no programa eleitoral do Partido Socialista e defende, e tem defendido com afinco, os
números de cenário macroeconómico, em particular do saldo primário, ou seja, saldo sem juros. E a estranheza
é esta: como é que o saldo primário do programa eleitoral do PS foi cumprido, e até ultrapassado, com medidas
que não eram as medidas do Programa do PS mas que eram medidas, como o Sr. Primeiro-Ministro bem
reconheceu, do Bloco, do PCP, de Os Verdes?
Não houve congelamento de pensões, houve aumento de pensões; houve devolução de salários e a
devolução da sobretaxa foi mais rápida; a descida do IRS foi mais profunda; houve um novo regime de reformas
antecipadas e um novo regime de vinculação de precários, houve descida do IVA na cultura; houve descida de
propinas. Enfim, tantas medidas — esse balanço foi feito —, tantas medidas que não estavam no programa
eleitoral do PS.
Portanto, o excedente primário foi ultrapassado com medidas de recuperação de rendimentos muito
diferentes e que vão muito além daquilo que tinha sido previsto pelo PS, sendo que, nestas contas que o PS
não previa, se acomodaram, ainda, 7000 milhões de euros injetados na banca pelo Governo.
Sobre isso, gostaria de dizer uma coisa: o Governo contou com o apoio do Bloco de Esquerda na
recapitalização da Caixa, no bom e no mau, mas não conta com o Bloco de Esquerda para assumir o passivo
das decisões desastrosas sobre a banca que aprovou com a direita e que não aprovou com o Bloco de Esquerda,
nem com a esquerda.
O Sr. MoisésFerreira (BE): — Muito bem!
A Sr.ª MarianaMortágua (BE): — Mas voltemos às contas do PS.
É fácil perceber que alguma coisa não bate certo. O que se passou na economia nestes quatro anos desafia
as previsões do PS em 2015. E o que se passou nestes quatro anos foi que as medidas que também o PS
julgava que eram impossíveis, foram possíveis e melhoraram a economia, melhoraram o emprego, melhoraram
as contribuições sociais, melhoraram a segurança social, melhoraram as contas públicas. E se este é o balanço
que fazemos, importa agora perguntar, modestamente, se teria sido possível ir mais longe, se era possível o
Governo ir mais longe no investimento, a investir no País e nos serviços públicos.
O cenário macroeconómico do Partido Socialista diz que sim. Assumindo que o Partido Socialista ainda
defende os números do seu cenário, assumindo que o Partido Socialista considera, hoje, que as metas do défice
que colocou, na altura, no seu cenário macroeconómico eram responsáveis, então, teria sido possível investir
mais 4000 milhões e cumprir o saldo primário então previsto e teria sido possível investir mais 8000 milhões e,
ainda assim, cumprir o saldo então previsto. Por isso, Sr. Primeiro-Ministro, a pergunta é simples: por que é que
não o fez?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para formular perguntas, tem a palavra, em nome do CDS-PP,
a Sr.ª Deputada Cecília Meireles.
A Sr.ª CecíliaMeireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.
Primeiro-Ministro, ouvi o seu discurso bastante elogioso ao seu Governo — diria mesmo bastante autoelogioso,
no que, aliás, tem sido uma característica sua — gabando-se, basicamente, do seu sucesso e do cumprimento
dos seus compromissos.
Gostava de lhe perguntar, Sr. Primeiro-Ministro, onde, exatamente, é que tinha inscrito como meta, como
compromisso e como promessa eleitoral que Portugal fosse ter a maior carga fiscal de sempre, durante o seu
Governo?
O Sr. NunoMagalhães (CDS-PP): — Ora bem!