I SÉRIE — NÚMERO 6
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quero aproveitar esta segunda intervenção para relembrar e cumprimentar os trabalhadores do Novo Banco, mas também para dizer que
votaremos a favor de todas as propostas de comissão de inquérito.
Queremos investigar tudo! Queremos investigar a influência de obscuros interesses privados nos partidos
políticos. E, Sr. Deputado André Ventura, para além do passado, vamos aproveitar para investigar e conhecer
melhor os negócios dos dirigentes do Chega e a origem do financiamento do seu partido. Façamos já essa
investigação!
Aplausos do BE.
Salvador de Andrade, administrador na ex-imobiliária do BES, onde é colega de José Maria Ricciardi, vice-
Presidente do Chega até há bem pouco tempo, gabou-se para a revista Visão de financiar o Chega e de mobilizar
os seus contactos empresariais para fazerem o mesmo; Pedro Pessanha, dirigente do Chega Lisboa, diretor
que assessorou vários negócios do ex-BES Angola, conhecido como BESA, hoje Banco Económico; também
Francisco Cruz Martins, ligado aos escândalos do Banif, de Vale do Lobo, dos Panama Papers e a negócios
com elite angolana, assume publicamente que participa e que mobiliza os seus contactos para «luxuosas
almoçaradas» de angariação de apoios e de fundos para o Chega.
Por isso, Srs. Deputados, Sr. Deputado André Ventura, façamos a investigação. Façamos já a investigação!
Pouparemos à Assembleia da República uma comissão de inquérito futura e pouparemos, também, ao País as
aldrabices de um partido comprometido até ao pescoço com os negócios mais obscuros da elite financeira e
económica.
É que, Sr. Deputado André Ventura, o Sr. Deputado não é só um político do sistema, o Sr. Deputado é um
político do pior que o sistema tem.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Entramos no ponto quatro da ordem de trabalhos, que trata da discussão do Projeto de Resolução n.º 553/XIV/1.ª (PAN) — Recomenda ao Governo português que intervenha
junto do Governo espanhol no sentido de proceder ao encerramento da central nuclear de Almaraz.
Para a apresentação desta iniciativa legislativa, tem a palavra a Sr.ª Deputada Bebiana Cunha, do PAN
A Sr.ª Bebiana Cunha (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Permitam-me que iniciemos esta intervenção com uma mensagem de congratulação e de agradecimento aos jovens que hoje voltam a manifestar-
se em nome da justiça climática, num contexto ainda marcado por esta crise sanitária, que tem, como pano de
fundo, uma crise claramente ambiental. Aos jovens que não baixam os braços nesta luta, o PAN deixa a sua
garantia de que está com eles para fazer o caminho que tem de ser feito em matéria de justiça climática e em
matéria de combate às alterações climáticas.
Sr.as e Srs. Deputados, a central de Almaraz localiza-se a 100 km da fronteira portuguesa — e desengane-
se quem considera que esta distância nos protegerá, no caso de uma eventual fuga de material radioativo —,
regista já 40 anos de funcionamento, apesar de uma vida útil recomendada de 30 anos, marcada,
evidentemente, por um caminho com diversos incidentes.
Um relatório recente da Agência Internacional de Energia Atómica alertou para a degradação e o
envelhecimento dos componentes desta central, o que, obviamente, reduz as margens de segurança deste
projeto e aumenta a ocorrência de falhas nos componentes de segurança desta central. Neste mesmo relatório,
refere-se que os riscos serão maiores sob condições transitórias associadas a uma perturbação acidental ou
operacional.
É também por demais evidente que o funcionamento de uma central nuclear para além da sua vida útil
incrementa os riscos de ocorrência de um acidente nuclear. Apesar dos seus 40 anos, mais 10 para além do
que era suposto, há dois meses, o Governo espanhol anunciou a extensão da exploração desta central nuclear
até 2028. Do Governo português não se ouviu um «ui»!
Bem a propósito dos riscos definidos pela Agência Internacional de Energia Atómica, no mês de julho
passado, registaram-se dois incidentes em ambos os reatores da central nuclear de Almaraz.