I SÉRIE — NÚMERO 6
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A Sr.ª Emília Cerqueira (PSD): ⎯ Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Relativamente a estas duas propostas, passados cerca de 20 anos sobre o último estudo feito em Portugal relativamente à situação concreta
do nosso País no que diz respeito ao trabalho infantil, o PSD considera que, realmente, é tempo de se voltar a
conhecer a realidade do trabalho infantil em Portugal e, portanto, acompanhará as propostas apresentadas, que
nos parecem pertinentes.
Dito isto, parece-me que se trata de uma discussão em relação à qual não há muito que discutir ⎯ permitam-
me a quase contradição ⎯, porque todos nós consideramos que a salvaguarda dos direitos das crianças é
fundamental, bem como a erradicação do trabalho infantil.
Temos tido denúncias por parte da CNASTI, que tem conhecimento de algumas situações de trabalho infantil,
nomeadamente na restauração, e também de novas formas de exploração do trabalho infantil, e, naturalmente,
vemos isso com preocupação. Para o PSD, a existência de um único caso de trabalho infantil em Portugal é
razão para atuarmos nesta matéria; tanto mais que há, neste momento, uma voz de alerta, que nos chega,
inclusive, das Nações Unidas, que declara temer que, pela primeira vez em 20 anos, assistamos a um aumento
do trabalho infantil, por força da crise que se vive atualmente a nível mundial.
Sendo Portugal um País altamente permeável à realidade que existe no resto do mundo, não estamos imunes
a esta nova realidade e a esta preocupação das organizações internacionais relativamente à situação do
trabalho infantil no mundo e em Portugal também. Portanto, parece-nos igualmente pertinente que se tenha em
conta esta nova realidade, bem como os efeitos da própria pandemia na evolução da situação do trabalho infantil
em Portugal.
Obviamente, todos sabemos que, desde as tristes imagens, que víamos nos anos 80 e 90, de crianças a
coser sapatos no Vale do Ave e de tantos outros casos de exploração infantil ostensiva que se desenvolvia em
casa ⎯ onde se fechava a porta para que as pessoas que faziam as encomendas não vissem este trabalho
infantil e as mãos em ferida, pelas agulhas que cosiam os sapatos ⎯, percorremos muito caminho. Temos de
reconhecer este caminho percorrido, sendo que Portugal fez um longo processo de evolução e também de
atuação no âmbito dos direitos das crianças.
Mas, já que hoje discutimos o trabalho infantil, para o PSD, os direitos das crianças têm de ser vistos de uma
forma global. Não podemos atender apenas a um aspeto, urge também que se tenham em conta as
oportunidades e os impactos dos casos de trabalho infantil, nomeadamente no percurso escolar, na exclusão,
no projeto de vida das nossas crianças, porque tudo isso tem de ser visto de forma global.
Também vemos com grande preocupação — e aproveitamos este momento de debate para chamar a
atenção para isso — a situação que se tem verificado relativamente às nossas crianças mais vulneráveis,
nomeadamente no período de pandemia. É uma situação para a qual, aliás, o PSD abundantemente chamou a
atenção, nomeadamente para o facto de as CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens) não estarem
a atuar presencialmente, de a segurança social não ter os seus agentes a atuar presencialmente, de a escola
não ter alunos no seu dia a dia, sabendo nós que a escola era o principal agente de denúncia e de chamada de
atenção para situações de violação dos direitos das crianças.
O PSD está altamente preocupado com todas estas situações e tem vindo, aliás, a manifestá-lo em
perguntas, em requerimentos, inclusive em intervenções nesta Casa, para que as nossas crianças não sejam
desprotegidas na sua maior abrangência, nos seus direitos como um todo, porque as crianças são o melhor do
mundo, já dizia o poeta.
Permitam-me que termine com uma citação da Declaração Universal dos Direitos da Criança, que todos nós
temos de ter como premissa fundamental: «a Humanidade deve à criança o melhor que tem para dar». Todos
nós, ao fazer este estudo e ao atuar também na criança e no seu futuro como um todo, estaremos a fazer, pelo
menos, aquilo que conseguimos para lhes dar o nosso melhor.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana Ferreira, do PCP.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A 12 de junho, data em que se celebra o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, foi sinalizado, por organizações como a OIT e a UNICEF, o risco