8 DE OUTUBRO DE 2020
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recuperação significativa, mas, em agosto, já não houve, tendo-se registado de novo uma quebra, e ainda não
temos os números finais de setembro.
Ainda assim, se compararmos períodos homólogos, relativamente, por exemplo, ao mês de agosto,
verificamos que a assistência, este ano, não foi significativamente diferente da de anos anteriores, desde logo,
do ano imediatamente anterior, com uma redução de 3,6%.
De qualquer maneira, vou partilhar consigo o estudo. É a melhor informação que existe e que merece,
naturalmente, o maior cuidado e a nossa maior atenção.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra o Sr. Deputado Rui Rio.
O Sr. Rui Rio (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, não vou repetir a pergunta, mas constato que há uma não-resposta, também relativamente à promessa que fez em 2016, de que, até ao fim de 2017, todos
os portugueses teriam médico de família. Portanto, não têm e não obtive a resposta de quando é que essa
promessa poderá ser cumprida.
Aplausos do PSD.
Mas há mais dados. Olhei para o passado, falei do passado, mas agora vou falar do futuro. E, falando do
futuro, aquilo que considero mais grave são as falhas ao nível dos meios complementares de diagnóstico e de
terapêutica.
Estão a fazer-se menos exames, registando-se quebras na ordem dos 30%. Estão a fazer-se, por exemplo,
menos análises clínicas e menos exames de radiologia e de cardiologia.
Também se está a fazer menos rastreio do cancro, seja do cancro da mama, seja do cancro do cólon, seja
do cancro do colo do útero, por exemplo — não com quebras de 30%, com quebras muitíssimo inferiores, mas,
de qualquer maneira, os rastreios também têm falhado.
Aqui estamos a falar do diagnóstico, mas o que ainda é pior são as listas de espera para tratamento. Alguém
que tenha um tumor maligno, que necessite de um tratamento e que esteja em lista de espera para esse
tratamento, na maioria dos casos, arrisco-me a dizer que tem uma autêntica condenação à morte.
Eu próprio tenho ouvido médicos relatarem que os doentes oncológicos estão a chegar às consultas, aos
médicos, numa fase muito mais avançada do que aquilo que era normal. Ou seja, o tratamento dessas pessoas
vai ser mais difícil, vai ser mais caro — paciência!… —, mas, acima de tudo, vai ter menos êxito do que se as
pessoas tivessem tido o tratamento a tempo e horas.
Portanto, Sr. Primeiro-Ministro, como referi no início, este assunto é talvez um dos mais sérios que eu aqui
poderia trazer. E, olhando para as estimativas para 31 de dezembro do ano de 2020, portanto, para o fim deste
ano, se nada for feito, se a evolução continuar a ser esta, teremos menos 10 milhões de consultas presenciais
nos centros de saúde.
Pode dizer-me — e acho que pode — que não é certo que sejam menos 10 milhões. Podem ser 11 ou 12
milhões, podem ser 8 ou 9 milhões a menos, é verdade, mas a ordem de grandeza será esta, se seguir a
evolução que tem tido desde março.
Teremos menos 2,2 milhões de consultas de especialidade nos hospitais — pode ser um pouco mais ou um
pouco menos, mas a tendência é esta — e teremos 214 000 cirurgias a menos, numa evolução linear.
Naquilo que mais importa, Sr. Primeiro-Ministro, teremos mais 12 800 a 13 000 mortes, das quais 9500
seguramente não terão a ver com a COVID. E, nestas projeções, faltam aqueles que aqui aparecerão por força
de não terem tido um diagnóstico nem um tratamento. Portanto, o assunto de que estamos a falar é um assunto
grave.
Mais: os meses em que se morre menos, em Portugal, são entre abril e outubro e nós estamos a fazer
projeções com esses números. Portanto, se metermos novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e parte do próprio
março, a evolução ainda poderá ser pior.