8 DE OUTUBRO DE 2020
7
E um dos maiores problemas que temos neste momento é que nem essas contratações nem esse
investimento aconteceram. Estavam previstos no Orçamento do Estado para 2020 e não foram feitos, nem
contratações, nem investimento.
Significa isto que, ao mesmo tempo que profissionais de saúde estão a ir para a reforma — justamente,
porque a isso têm direito —, as entradas que estão a acontecer não compensam as saídas, muito menos no
momento em que é preciso mais gente, das mais variadas profissões da saúde, para responder à pandemia de
COVID.
Significa isto também que setores em que o Estado não tem capacidade de resposta, como os meios
complementares de diagnóstico, são dos que estão mais atrasados, porque, precisamente, o Estado não fez um
investimento para internalizar estes meios complementares de diagnóstico e terapêutica, que ficaram na mão
dos privados, e os privados, com a pandemia, fecharam e não quiseram saber da população portuguesa.
Protestos do CDS-PP e do IL.
Bem sei que a direita não gosta de ouvir falar destas coisas, mas não nos basta diagnosticar o problema, é
preciso ir às soluções — e, portanto, vamos a elas!
Era preciso contratar os profissionais que já estavam previstos no Orçamento do Estado para 2020, e não é
de contratos a quatro meses, temporários, que o Serviço Nacional de Saúde precisa, é mesmo de um saldo
líquido de mais profissionais. Digo mais: precisa de mais médicos, mas, se o Governo continuar a aceitar que a
Ordem dos Médicos possa paralisar a formação de especialistas, podemos abrir os concursos que quisermos,
que não teremos os médicos de que precisamos.
Do mesmo modo, se o Estado não tiver a coragem de dar passos, por exemplo, no sentido da dedicação
plena, para que trabalhar no Serviço Nacional de Saúde compense, haverá médicos que continuarão a preferir
trabalhar no privado e, como aprendemos todos durante a pandemia, o privado fecha as portas quando a
população mais precisa de cuidados de saúde. É por isso que é preciso contratar e arranjar forma de ter mais
médicos. Mas é preciso contratar em todas as profissões, é preciso fazer investimentos e é preciso
responsabilizar.
Durante o estado de emergência, o Bloco de Esquerda defendeu várias vezes que o estado de emergência
deveria servir também para requisitar os serviços dos hospitais e das clínicas privadas, para que não fosse só
o SNS a ficar com a COVID e a parar tudo o que estava programado. Os privados gostam muito de receber o
dinheiro do Estado quando é só lucro, mas, quando houve uma pandemia, não foram chamados a assumir
nenhuma responsabilidade e essa é uma boa parte do problema que estamos a viver.
Aplausos do BE.
Na verdade, tivesse o Governo tido a coragem de fazer o que o Bloco de Esquerda propôs vezes sem conta,
que era obrigar os privados a responderem também no momento da COVID, requisitando os seus serviços, o
Serviço Nacional de Saúde não teria ficado com tantos tratamentos, cirurgias e exames programados à espera.
É essa coragem que é precisa neste momento: defender a população muito mais do que o negócio da saúde e
defender os profissionais de saúde.
Chamo a atenção para o que disse hoje o Prof. Constantino Sakellarides, com toda a razão: «Os profissionais
de saúde estão exaustos. Ou há mais profissionais ou eles não conseguem lidar com esta nova vaga». Já foi
aprovada, nos Orçamentos do Estado para 2019 e 2020, a contratação de mais profissionais. O Governo tem
de executar o que foi orçamentado. É urgente ter pessoas e meios no Serviço Nacional de Saúde.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, teremos outras rondas. Queria fazer-lhe uma pergunta sobre uma outra matéria,
que também tem a ver com os recursos do País.
Temos discutido as questões do Estado, aliás, estão em debate no Parlamento as questões, até, da
contratação pública, que são muito complexas. Por parte do Bloco de Esquerda, sabemos que é necessário
mais investimento, mas também mais escrutínio. Mais burocracia tem provado ser incapaz, tanto para o
investimento como para o escrutínio, mas sejamos claros: o Bloco de Esquerda nunca aceitará menos escrutínio
com a desculpa da execução.