I SÉRIE — NÚMERO 12
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O PSD, por sua vez, traz-nos uma proposta que, para além das alterações aos diplomas sobre essas leis
eleitorais, propõe, ainda, alterações ao Regime Jurídico do Referendo Regional na Região Autónoma dos
Açores.
Ora, face a estas propostas, Os Verdes dividem este universo em dois conjuntos distintos. Por um lado, as
propostas que pretendem dar resposta a problemas provocados pela pandemia da COVID-19, do ponto de
vista da participação eleitoral, enquanto esta pandemia perdurar.
Por outro lado, um pouco à boleia desta situação, que reconhecemos, aliás, exigir a tomada de medidas
para permitir uma maior participação eleitoral, todas as outras propostas, tanto de alteração às leis eleitorais,
mas que nada tem a ver com a situação pandémica, como também aquela que diz respeito à preparação da
consolidação da legislação procedimental eleitoral.
E, como primeira nota, queria dizer que Os Verdes consideram que alterar leis eleitorais com eleições
praticamente à porta, como é o caso da eleição para a Presidência da República, parece-nos pouco saudável
e nada recomendável.
Ou seja, independentemente do conteúdo das próprias propostas, independentemente da motivação dos
seus autores, que certamente até poderá ser a melhor, a poucos meses da realização de um importante ato
eleitoral, como é a eleição para a Presidência da República, não é, a nosso ver, a altura certa para se
proceder a alterações às leis eleitorais.
Quanto à consolidação da legislação procedimental eleitoral, não vemos, à partida, qualquer inconveniente
em proceder a uma espécie de código de procedimento eleitoral desde que o objetivo seja, apenas e tão só,
proceder a essa compilação, e não se pretenda, por essa via, alterar qualquer variável da própria natureza do
nosso sistema eleitoral.
Relativamente às propostas que visam dar resposta a algumas das matérias que a pandemia hoje coloca, e
desde que essas alterações sejam meramente transitórias, e, portanto, assumam uma natureza excecional, a
nossa posição ganha contornos diferentes.
De facto, face ao quadro que atravessamos, em virtude da pandemia, Os Verdes também consideram que
corremos o risco de as próximas eleições para a Presidência da República virem a ser marcadas por uma
baixa participação, sobretudo por parte dos eleitores incluídos em grupos etários mais velhos ou em grupos de
risco, que, face às limitações de mobilidade e às regras de combate à pandemia, estarão certamente menos
disponíveis para exercer o seu direito de voto.
Por isso, parece-nos necessário tomar medidas que permitam uma participação eleitoral maior. Bem
sabemos que as propostas apresentadas podem não resolver todos os problemas e exigem cuidados
redobrados para garantir o essencial, mas também estamos certos de que essas propostas podem vir a
atenuar os efeitos da situação que vivemos do ponto de vista da participação eleitoral.
Portanto, as propostas que pretendem atribuir o direito de voto antecipado às pessoas que estão em
confinamento obrigatório, seja no respetivo domicílio, seja no local estabelecido pelas autoridades de saúde,
que não em estabelecimento hospitalar, naturalmente desde que esses eleitores estejam inscritos no concelho
da morada do local de confinamento, parecem-nos sensatas, desde que se garanta a confiança e a segurança
do ato eleitoral, o que, de resto, nos parece perfeitamente possível de assegurar.
E o mesmo se diga relativamente à disponibilização de mesas de voto em cada concelho, e não apenas
nas capitais de distritos, para os casos do direito de voto antecipado.
Acompanhamos, portanto, as propostas que visam minimizar ou atenuar os efeitos do confinamento
obrigatório exclusivamente para as eleições presidenciais e enquanto forem entendidas com uma natureza
excecional e provisória e desde que se garanta o essencial, ou seja, permitir a participação eleitoral em
segurança e de forma a permitir uma eleição justa, livre e participada.
Quanto ao resto, e sem pretender formular qualquer juízo de valor relativamente ao mérito do seu
conteúdo, não nos parece ser o tempo certo e oportuno para proceder às alterações propostas às leis
eleitorais, que nada têm a ver com os efeitos da pandemia, com um ato eleitoral mesmo aí à porta.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): ⎯ Tem a palavra, para proferir a próxima intervenção, o Sr. Deputado António Filipe, do PCP.