I SÉRIE — NÚMERO 15
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Parece inegável que as opções estratégicas e as medidas previstas para o 5G, tendo sido desenhadas num
cenário de pré-pandemia, devem ser revisitadas, adequadas e balanceadas.
A experiência das últimas duas décadas demonstra que foi realizado um enorme esforço de investimento e
cobertura de rede por parte dos operadores. Esse esforço foi, essencialmente, no litoral do País e nos grandes
centros urbanos, sendo evidente para todos que é no interior do País que existem maiores dificuldades de rede,
o que compromete a concorrência, o melhor preço e o serviço ao consumidor.
Ao mesmo tempo que se promove a cobertura seletiva que abrange os principais agentes estratégicos da
transição digital é fundamental assegurar a coesão territorial e a proteção das populações mais desfavorecidas.
Com o objetivo declarado e meritório da ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações) na promoção de
mais concorrência no mercado pode existir um potencial risco no regulamento do leilão, seguramente não
desejado, de aproveitamento do espetro reservado aos novos entrantes por eventuais entidades com fins
meramente especulativos.
A conjugação de três condições expressas no regulamento do leilão para os novos entrantes, se forem
analisadas de forma cumulativa, comportam riscos, ou seja, a reserva do espetro do 3G e 4G para novos
entrantes com a ausência de qualquer obrigação de cobertura para quem adquirir esse espetro, somando a isso
o acesso de roaming nacional por quem adquirir esse espetro sem a obrigatoriedade de desenvolvimento de
rede própria, podem configurar uma distorção no mercado, um problema de concorrência e um risco de
aproveitamento especulativo das condições do leilão.
Se esta situação se mantiver no regulamento, estamos, certamente, a promover um cenário de litigância
entre o Estado, a ANACOM, os operadores do mercado e os novos entrantes e isto pode implicar uma
suspensão dos investimentos no desenvolvimento do 5G, e este é um risco que o País não pode correr.
O CDS apresenta neste projeto de resolução um conjunto de alterações ao regulamento, contemplando que
os operadores que priorizarem os investimentos no interior do País, onde existe hoje uma maior dificuldade de
cobertura, possam vir a gozar de melhores condições de pagamento. Nós tantas e tantas vezes falamos nos
problemas do interior, da coesão territorial, e é precisamente com medidas concretas que desenvolveremos
esse mesmo interior.
Propomos também: introduzir a obrigação de roaming às zonas de baixa densidade populacional numa base
de reciprocidade entre os operadores, permitindo mais concorrência e cumprindo os objetivos de coesão
territorial e social; assegurar que na atribuição de qualquer espetro na sequência do leilão exista um
compromisso de investimento em infraestruturas de rede, ou seja, compromisso de cobertura; impor obrigações
de cobertura da população e do território a todas as entidades às quais seja atribuído espetro, tendo como
objetivo dotar o País de serviços de banda larga e promover a coesão territorial; associar, em particular aos
novos entrantes no mercado, as obrigações de cobertura ao espetro reservado 3G e 4G e que essas obrigações
de cobertura sejam equivalentes às fixadas aos atuais operadores de rede quando estes entraram no mercado;
alargar os prazos de cumprimento das obrigações de cobertura 5G de cinco para sete anos para acomodar os
impactos negativos do contexto macroeconómico provocados pela pandemia.
O Sr. Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Propomos ainda criar incentivos ao investimento caso os investimentos sejam realizados nos primeiros três anos, antecipando o cumprimento de metas previamente
previsto no regulamento de leilão que previam cinco anos para a realização de investimentos.
O 5G é uma grande oportunidade tecnológica para o País na próxima década.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Se a experiência do País em matéria de telecomunicações nos ensina alguma coisa é que as políticas destas décadas, de privatização, de liberalização
e de oligopólio, tiveram consequências desastrosas para as populações e para os trabalhadores, para a
economia e para os setores produtivos, em particular para as micro, pequenas e médias empresas.