I SÉRIE — NÚMERO 15
28
O importante neste leilão devia ser claro: garantir que haja concorrência, partilha de espetro, entrada de mais
operadores móveis virtuais e criar condições para o aparecimento das chamadas redes privadas, que são
cruciais em certas atividades de ponta.
Mas não proteger os incumbentes não pode ser sinónimo de proteger os novos entrantes. Estes devem estar
obrigados a mínimos de cobertura dentro de certos prazos, tal como os demais concorrentes, devem poder usar
as infraestruturas existentes, mas não de forma compulsiva ou gratuita, o que seria uma forma de expropriação
— mais uma — dos investimentos efetuados por outros.
Também não se entende que se continue a permitir que concessionárias de determinadas frequências não
as utilizem anos a fio nem vejam as suas licenças revogadas. No final, é sempre o consumidor quem paga.
Este devia ser o papel do regulador — assegurar condições de concorrência justas e não decidir a priori
quem ganha e quem perde no mercado.
O anterior Secretário de Estado partilhava esta visão e foi afastado. Passados uns dias, o Governo andou a
promover uma dessas operadoras que não usa o espetro. Coincidência?
Não sabemos. Mas proximidade entre as telecomunicações e Governos do PS é algo que, seguramente,
ninguém quer voltar a ver.
Aplausos do Deputado do CDS-PP João Gonçalves Pereira.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Falamos, hoje, da tecnologia 5G, um assunto de extrema importância, mas que ganha ainda maior relevância se tivermos em conta que em causa
estão, nada mais nada menos, do que os direitos de utilização do espetro radioelétrico para as próximas duas
décadas.
Ora, tratando-se de uma matéria que envolve 20 anos, é avisado ter presente não só que o espetro é do
domínio público do Estado, mas também que o bom senso nos diz que se há alguma coisa de útil nos erros é
aprendermos com eles para os evitar no futuro.
Por isso, seria bom — em nome do interesse público e também da necessidade de proteger os consumidores
— que, antes de se tomar qualquer decisão, se fizesse uma leitura do que aconteceu para trás e um diagnóstico
sobre a situação atual, exatamente para evitar que se cometam os erros que se cometeram no passado.
Assim, quando olhamos para trás, e para o 4G, o que sobressai, em primeiro lugar, são as deficiências que
se foram arrastando no tempo. Referimo-nos, por exemplo, à partilha de infraestruturas entre os vários
operadores, que não existe e que tem vindo a comprometer seriamente um desempenho aceitável do serviço.
E, se olharmos para os níveis de cobertura em muitos concelhos do nosso País, sobretudo do interior,
percebemos, sem grande esforço, que a cobertura é absolutamente deficiente e, muitas vezes, nem há
cobertura. Isto já para não falar dos valores pagos, que são dos mais altos da Europa, ou da forma como as
operadoras olham para os seus trabalhadores, deixando-os numa cruel e absoluta precariedade.
O motivo é simples e o do costume: as operadoras norteiam-se apenas pelos interesses dos seus acionistas,
porque as necessidades das populações não têm qualquer relevância, e o Estado, por sua vez, finge que não
vê e que nada se passa. E as populações, em vez de terem cobertura de rede, ficam, literalmente, a ver navios.
Ora, são exatamente estas falhas, estas deficiências que se devem evitar, agora com as tecnologias e o
sistema 5G. Mas, a nosso ver, isso só é objetivamente possível através da recuperação de um serviço público
e universal de telecomunicações, só é possível com a garantia do domínio público do espetro radioelétrico e
com a gestão e exploração pública das redes.
Portanto, nesta fase, em vez de leilões, o que se impõe é que o Governo deite mãos à reconstrução de um
operador público e de um serviço público de telecomunicações capaz de garantir uma oferta de qualidade e
economicamente acessível nas comunicações. Impõe-se que se decida por um serviço universal de
comunicações eletrónicas, tendo como propósitos a redução de preços e impõe-se que caminhe também no
sentido de conseguir a cobertura total do território nacional.
É isto que, na perspetiva de Os Verdes, se impõe, se o Governo estiver mesmo disposto a colocar o interesse
público acima do interesse dos privados.