17 DE OUTUBRO DE 2020
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Ao entregar um setor absolutamente estratégico às multinacionais, os Governos PS, PSD e CDS sujeitaram
o País a uma fatura insuportável,…
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — … desde logo nos custos exorbitantes que são praticados pelas operadoras de telecomunicações, mas também no plano social, com a precariedade, a subcontratação e o ataque aos direitos
de quem trabalha no setor.
Há uns meses, passou por esta Assembleia um Secretário de Estado que, repetindo a cartilha dos grupos
económicos do setor, subiu de tom nas ameaças em torno do regulamento do concurso para a introdução do
sistema 5G em Portugal, num ataque à ANACOM sem precedentes por parte de um político.
Mais uma vez, ficou demonstrado que essa conversa toda da regulação dos mercados, como alibi para as
privatizações, essas homenagens e louvores às entidades reguladoras, tudo isso cai por terra quando as
entidades reguladoras não cumprem à risca o guião que está previsto.
É uma pena que o Governo não esteja cá hoje, mas algum dia havemos de saber se esse lamentável
documento, que é a «Estratégia e calendarização da distribuição da quinta geração de comunicações móveis»
(Resolução do Conselho de Ministros n.º 7-A/2020), vai ou não ser revogado e substituído por uma estratégia
que faça sentido.
É que o Governo, nessa estratégia para o 5G, perante níveis de cobertura, fiabilidade e disponibilidade da
rede 4G, que estão hoje escandalosamente aquém do que seria exigível, coloca como objetivo nacional nesta
matéria assegurar que o 4G venha a cobrir as escolas e a linha do Norte num prazo a determinar! E com
contrapartidas de benefícios aos operadores!
Estamos perante uma opção política de total subserviência para com os grupos económicos que hoje
dominam o setor e que é absolutamente inaceitável.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Esta não é nem pode ser uma guerra entre os grupos económicos que
dominam o setor e os grupos económicos que querem entrar. O que está em causa verdadeiramente é a defesa
do interesse público e do interesse nacional face ao poder das multinacionais.
As opções políticas de fundo nesta matéria terão, necessariamente, de ir além dos mecanismos regulatórios
em sede de leilão do espetro. O que é urgente e indispensável para o País neste domínio é a reconstituição de
um operador público, que seja, efetivamente, responsabilizado pela definição e concretização de uma estratégia
de modernização e desenvolvimento do setor.
Assim, o PCP propõe: que o Governo aposte na reconstrução do operador público e num serviço público de
telecomunicações, que garanta uma oferta de qualidade e economicamente acessível nas comunicações
telefónicas, eletrónicas e de televisão, ao invés de um suposto mercado concorrencial dominado por um
oligopólio de multinacionais; que o Governo cancele o leilão do direito de utilização do domínio público sobre o
espetro radioelétrico, decretando a sua gestão e exploração pública, e desenvolvendo, quando necessário, e se
necessário, parcerias com o setor privado, mas sem lhes entregar o controlo e a gestão das redes; que o
Governo desenvolva, a par da introdução em Portugal do sistema 5G, e no aproveitamento dos sistemas
existentes, um serviço universal de comunicações eletrónicas, apontando como objetivo a redução de preços e,
no prazo de dois anos, a cobertura total da população nacional para comunicações móveis de voz e a cobertura
do serviço de banda larga móvel a 100 Mbps para 98% do território nacional, abrangendo a totalidade da rede
ferroviária nacional e dos IP (itinerários principais) rodoviários; que o Governo impeça a constituição de um
monopólio privado no controlo das redes de estações emissoras e de base, atualmente em curso, e consolidar
no operador público a gestão e o desenvolvimento desse sistema, a par das redes de fibra ótica, cabos
submarinos e outros sistemas críticos, com o envolvimento da atual Telecom; que o Governo promova a máxima
incorporação nacional no desenvolvimento e aplicação das tecnologias a adotar no processo de introdução dos
sistemas 5G, desde logo com a participação e o envolvimento do sistema científico e tecnológico nacional, assim
como das empresas nacionais.
É indispensável uma mudança estratégica no desenvolvimento do setor das telecomunicações, no contexto
da introdução da tecnologia 5G, considerando a soberania e o domínio público sobre o espetro radioelétrico. É
esse o sentido da nossa proposta.