17 DE OUTUBRO DE 2020
35
vestidos de fatos de macaco brancos, rodeados de crude, que recolheram e limparam o pastoso e negro
combustível que chegava à costa.
Na Amazónia, existem políticas de desmatamento e queimadas para promover o negócio da pecuária e das
plantações intensivas, que dizimam a floresta, a biodiversidade, os ecossistemas, a um ritmo imparável. É um
ecocídio que viola, mais uma vez, os direitos humanos.
Falamos de ecocídio quando há um extenso dano, destruição ou perda de ecossistemas de um determinado
território devido à ação humana, a tal ponto que o usufruto desse território por parte dos habitantes locais tenha
sido severamente afetado.
Em matéria de ecocídio, não podemos deixar de fazer uma referência a Higgins, uma advogada britânica
que dedicou a sua vida ao reconhecimento do ecocídio como o quinto crime contra a humanidade, previsto no
Tribunal Penal Internacional (TPI).
Já sabemos, Sr.as e Srs. Deputados, que provavelmente vão antecipar alguns obstáculos formais, mas não
pequemos pela formalidade e tentemos encontrar soluções.
O que o PAN aqui traz hoje é um repto a Portugal para que se posicione ao lado da Suécia e da França neste
caminho e traga diplomaticamente outros países para esta causa — a causa do bem comum, a causa ecológica.
Aplausos do PAN.
Durante a intervenção, foram projetadas imagens, que podem ser vistas no final do DAR.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Nelson Peralta.
O Sr. Nelson Peralta (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A destruição de ecossistemas é, de facto, um dos principais problemas dos nossos tempos e, por ser um problema de agora, precisa de uma solução
para agora.
Este é um problema que agrava a situação das comunidades mais pobres, é um problema que coloca a crise
climática como uma crise para a própria sustentabilidade da humanidade e, por isso, somos favoráveis a que o
crime de ecocídio seja adicionado à lista de crimes que podem ser julgados pelo Tribunal Penal Internacional.
Na verdade, não seria grande novidade, pois este tribunal tem já competência para julgar ecocídios que são
perpetrados em cenário de guerra, faltando agora alargá-lo ao cenário de paz.
Aliás, o ecocídio começou com uma discussão sobre as atrocidades cometidas durante a guerra do
Vietname. Olhando para esta guerra, percebemos que a Monsanto e a Dow Chemical, que fabricaram o agente
laranja, responsável por tantas atrocidades ambientais, mas também humanitárias, são ainda hoje as grandes
empresas do setor. Quem lucra com a destruição ambiental continuará a lucrar, a não ser que a situação seja,
obviamente, travada.
Vejamos o exemplo dos nossos dias, a destruição da Amazónia, que é feita precisamente porque dá dinheiro
e enche os bolsos a alguma elite financeira do mundo que quer destruir a Amazónia para tirar madeira, para
criar gado, para plantar soja. É por isso que o ecocídio deve ser um crime. Olhando para o Brasil, percebemos
que o Presidente Bolsonaro está muito interessado em desproteger a Amazónia precisamente porque
representa não os interesses dos trabalhadores brasileiros, mas sim a elite predatória brasileira e do mundo que
quer destruir a Amazónia. É por isso que defendemos que quem comete a destruição de ecossistemas deve
sentar-se no banco dos réus.
Mas, de uma forma ainda mais ampla, percebemos que, se o capitalismo se sentar no banco dos réus da
História, será considerado culpado,…
Risos e protestos do Deputado do PSD Nuno Miguel Carvalho e do Deputado do CDS-PP João Pinho de
Almeida.
… culpado pela destruição de ecossistemas, culpado pela crise climática, culpado pela promoção da pobreza,
culpado pela promoção da desigualdade social.
É por isso que precisamos de criar uma alternativa e é para isso que cá estamos.