24 DE OUTUBRO DE 2020
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Relativamente à transposição da diretiva, pouco mais há a dizer. Concordamos, no essencial, com a proposta
de lei. Mas existem matérias conexas que cabem neste debate e que nos preocupam, sendo que, sob esse
ponto de vista, o Governo tem feito muito pouco.
Refiro-me às matérias relacionadas com a segurança e sinistralidade rodoviária, com a transição energética,
associada à necessidade da redução drástica das emissões de gases com efeito de estufa, e, ainda, com a
mobilidade suave.
Quanto à segurança e sinistralidade rodoviária, Portugal subscreveu, no âmbito da União Europeia, um
conjunto de metas até 2050, com objetivos intermédios. De resto, neste horizonte de 2011-2020, esse objetivo
passava pela redução, em 50%, do número de vítimas na estrada face a 2010. Infelizmente, se excluirmos este
ano de 2020, o ano da pandemia, a evolução entre 2016 e 2019 foi absolutamente catastrófica, com
crescimentos anuais consideráveis nos números de vítimas mortais e feridos graves, quando o compromisso
era a redução de 50%.
O Governo, apesar da propaganda que vai efetuando, tarda em adotar verdadeiras medidas e ações de
educação, formação e fiscalização que reforcem a cultura de segurança rodoviária. E, quando digo isto, não é
em vão: quem não se lembra das palavras do Ministro Eduardo Cabrita, que, quando confrontado com os
números desastrosos do aumento da sinistralidade rodoviária, anunciou que esse problema se resolvia com o
bloqueio do uso de telemóveis nas autoestradas, ou com a criação de uma brigada de drones, ou com a
imposição de um limite máximo de velocidade de 30 km na circulação urbana?
Para este Governo, sempre que há um problema faz-se uma conferência de imprensa e, de imediato, lança-
se uma série de medidas para o ar, sem qualquer reflexão prévia, sem qualquer estudo e sem qualquer
planeamento. Depois, o que é que acontece? Nada!
Aplausos do PSD.
Mas os acidentes continuam a ocorrer e a perda de vidas humanas não para de aumentar, com prejuízos
seriíssimos para a sociedade no seu todo. De resto, o impacto negativo da sinistralidade rodoviária — são
números do Governo — é de 2,3 mil milhões de euros por ano, ou seja, 1,2% do PIB (produto interno bruto).
Por isso, o PSD recomenda ao Governo que, em vez de propaganda, trabalhe de forma séria ao nível da
legislação, da fiscalização e de medidas de acalmia do tráfego.
Existem ainda novos conceitos de mobilidade sustentável, de resto defendidos por este Governo, e também
políticas públicas que os promovem e incentivam.
Existe um forte consenso social e científico quanto aos benefícios da utilização das bicicletas, em termos
ambientais, climáticos, de descongestionamento de trânsito e de saúde pública.
Nestas circunstâncias, deve ser prestada uma especial atenção aos utentes vulneráveis, como peões,
ciclistas e motociclistas, reforçando a sua proteção, pois as estatísticas de acidentes com estes são
particularmente inquietantes.
A Assembleia da República, Srs. Membros do Governo, tomou decisões importantes, em 2014, quanto ao
Código da Estrada, nomeadamente em relação à proteção dos utilizadores vulneráveis. Acontece que este
Governo está em funções há cinco anos e tarda em regulamentar situações como o incumprimento das regras
de ultrapassagem dos ciclistas, a ocupação da via adjacente, a distância lateral mínima de 1,5 m.
Portanto, o PSD pergunta: para quando a revisão e publicação do regulamento de sinalização de trânsito,
por forma a incluir a sinalética específica para proteger peões e condutores de bicicletas e alertar para a
necessidade de comportamentos responsáveis por parte dos condutores de automóveis?
Já agora, para quando a inclusão do tema da educação para a cidadania rodoviária nos currículos escolares
e na obtenção da carta de condução?
Educar, formar e fazer cumprir são pilares básicos de uma verdadeira e responsável cultura de segurança
rodoviária. Só assim é possível melhorar o comportamento dos vários utentes na estrada.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Gonçalves Pereira.