I SÉRIE — NÚMERO 17
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Face ao exposto, por considerarmos que este é um articulado que vai melhorar a qualidade do trabalho
desempenhado e também a segurança rodoviária, como já falámos, por tudo isto, o Grupo Parlamentar do
Partido Socialista votará a favor desta proposta.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Secretários de Estado, há uma questão prévia que não podemos deixar de referir. As matérias que estamos a debater não são minudências
técnico-administrativas de transposição cega de diretivas ou de harmonização neutra de legislação, nem o
processo legislativo na Assembleia da República é um ato burocrático, indiferente ao debate e aos contributos,
desde logo, dos setores a que se destina e dos trabalhadores que veem alteradas as condições em que exercem
a sua profissão.
O processo-relâmpago em que esta matéria é tratada na Assembleia da República é justificado pelo Governo,
como ainda há pouco ouvimos, com a preocupação de chegar a 1 de janeiro e arrancar com a Presidência
portuguesa do Conselho da União Europeia com a ficha limpa em matéria de transposição de diretivas. É uma
fraca desculpa, quando o assunto em causa tem a ver com direitos, liberdades e garantias e com as condições
em que se acede e exerce a profissão de motorista no transporte rodoviário de passageiros ou de mercadorias.
É aqui que se coloca o problema de fundo desta proposta e da própria diretiva, no quadro das políticas
impostas pela União Europeia: uma coisa é a liberdade de circulação ou o direito ao trabalho sem discriminações
ou preconceitos em razão da nacionalidade ou de qualquer outro critério; outra coisa é abrir ainda mais a porta
à desregulação, à liberalização, ao baixar da fasquia no controlo e na garantia das condições de segurança no
setor dos transportes, mesmo que haja mais exigências aos motoristas formados em Portugal. E estas não são
matérias conexas, Srs. Deputados, são matérias centrais, desde logo para a segurança rodoviária. Aliás, não
admira que, em relação à proposta do Governo, o PSD e o CDS manifestem o seu total acordo, de tal forma que
até vão buscar o Código da Estrada e as trotinetes para gastar o tempo.
Mas, Srs. Deputados e Srs. Membros do Governo, o problema da formação, da valorização profissional, da
estabilidade, do trabalho e da vida dos motoristas e das suas condições de trabalho é um problema central, e
não é abrindo a porta ao dumping social, à mobilização de contingentes pelas multinacionais, como nómadas à
conveniência dos patrões, que se vai responder e resolver os problemas, inclusive os da falta de motoristas em
Portugal, há muito identificados.
Se verificarmos que os motoristas, no quadro do reconhecimento automático entre Estados-Membros da
União Europeia, passam a ser confrontados com uma situação de ameaça do ponto de vista laboral e do seu
futuro, de concorrência desleal não só entre empresas mas entre contingentes laborais, então, levantam-se
sérias preocupações quanto ao futuro.
Quando o Governo aponta e o PSD e CDS concordam e convergem no sentido da continuidade de um
sistema de formação e certificação, no essencial, assente na chamada «iniciativa privada», com o Estado a
delegar, no fundamental, as suas competências nesta matéria para o mercado, mantêm-se as preocupações,
que se acentuam face à experiência do passado até agora. Também se verifica que os motoristas formados em
Portugal, certificados em Portugal, são confrontados com mais exigências quanto ao seu conhecimento e à sua
formação e, no entanto, passa a abrir-se a porta a outro tipo de contingentes e a outro tipo de certificações de
outros Estados-Membros, que não conhecemos nem controlamos do ponto de vista concreto — presumimos
que será bem feito —, e isso é inaceitável, Sr. Secretário de Estado, como compreende, certamente.
Os motoristas que ficaram em layoff com cortes nos salários, alguns dos quais ainda se encontram nessa
condição, os motoristas que, com esta proposta de lei, enfrentam novas ameaças não vão lá com elogios nem
com homenagens, Sr. Deputado. Do que eles precisam mesmo é do respeito e da consideração pelos seus
direitos e de um aumento geral dos salários, não precisam de dumping social e de serem confrontados com
novas ameaças, como esta.
Aplausos do PCP.
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