28 DE OUTUBRO DE 2020
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euros». Vou repetir: «Fiz as contas e este é um Orçamento de austeridade que tem um aumento de impostos
para 2021 de quase 3000 milhões de euros».
Sr.as e Srs. Deputados, no quadro da ação política deste Governo, em que a recapitalização das empresas
deverá passar pelo adiado e atrasado Banco de Fomento, defendemos também que todo o capital injetado nas
empresas deverá ter uma remuneração «zero» nos próximos três anos.
O atual contexto deveria obrigar o País a ter um Orçamento do Estado que fosse amigo da produtividade e
permitisse a criação de valor e a sua distribuição pelos empresários e pelos seus trabalhadores.
Há empresas que, durante décadas, foram bem geridas e honraram os seus compromissos para com os
seus fornecedores e para com o Estado. Hoje, temos setores parados e empresas paralisadas porque a
pandemia e o Estado assim o impuseram. É o caso das empresas no setor da aviação, é o caso do setor dos
bares e discotecas, é o caso do setor dos eventos ou das agências de viagens. Estou a falar de empresas, em
muitos casos, bem geridas, honestas e também, em muitos casos, capitalizadas. Hoje, o que é que sentem da
parte do Estado? Sentem um total abandono. E um abandono que acontece quando? No momento em que
mais precisavam. Repito, são empresas que, durante décadas, pagaram os seus impostos e as suas
contribuições ao Estado e que se veem, agora, abandonadas. É uma situação de enorme injustiça!
Por exemplo, no setor da aviação, o Governo decidiu apoiar a TAP, mas uma outra companhia de aviação,
a EuroAtlantic, ou empresas como a Groundforce e a Portway, que empregam milhares de trabalhadores e
que dependem do tráfego aéreo, estas, não tiveram apoios específicos.
Há setores e setores, há regiões e regiões e, por isso, os apoios devem ser canalizados em função da
necessidade de cada setor e de cada região.
Para o CDS, setor encerrado ou setor paralisado tem de ser setor apoiado.
Dá mais trabalho? Dá. Dá menos manchetes? Sim. Mas, às vezes, Sr. Primeiro-Ministro, aquilo que é
melhor para o País não é o melhor para a agenda mediática de quem governa.
E é por isso que lhe pergunto, para terminar: na construção deste Orçamento falou mais com o Presidente
do Conselho Económico e Social ou com a coordenadora do partido que já anunciou que votará contra?
Dialogou mais em off jornalísticos ou em conversas diretas com o nosso tecido empresarial?
Infelizmente, Sr.as e Srs. Deputados, acho que não precisamos de ouvir uma resposta para saber qual é
essa resposta.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Isso é coscuvilhice!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, pelo PAN, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Todas e todos temos, enquanto eleitos, a responsabilidade acrescida, da qual não nos
podemos demitir num momento complexo como o que o País vive, de não virarmos as costas.
É difícil compreender que partidos, como o Partido Social Democrata, optem por se colocar à margem de
encontrar uma solução coletiva, numa fase tão embrionária da discussão do Orçamento do Estado. O PSD,
que é capaz de estabelecer pontes de entendimento com o Partido Socialista em várias e complexas matérias,
até mesmo em prejuízo próprio, como o fim dos debates quinzenais ou a recente distribuição ruinosa de
lugares para as CCDR (comissões de coordenação e desenvolvimento regional), é o mesmo PSD que, depois,
não consegue estabelecer pontes com o seu parceiro de coligação oficioso naquele que é tão-somente o
documento mais importante para o País.
Note-se, porém, a bem da verdade, que este não foi o único a fazê-lo e que outras forças há, também, que
optaram pelo caminho mais fácil, o caminho da rutura. E não nos referimos a quem faz política de terra
queimada, mas a quem decidiu bater com a porta a este tempo.
Todos sabemos o quão fácil é encontrar divergências e vendê-las como linhas vermelhas insuperáveis,
quando, na verdade, o que falta é a real vontade para chegar ao entendimento de que o País precisa.