5 DE DEZEMBRO DE 2020
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Primeiro-Ministro que vem agora dizer que não há plano B e a proporção na Hungria, é o mesmo Primeiro-
Ministro de um Governo, que, como o jornal Público recentemente demonstrou, criticava aqui há uns meses a
existência dessa condicionalidade e é também o mesmo Primeiro-Ministro que, em julho, foi a Budapeste dar
apoio a Viktor Orbán nesta matéria.
A verdade é que este tema pode não ficar decidido na próxima semana e vai cair na Presidência portuguesa
e, portanto, gostávamos de saber como é que o Governo português vai atuar: se seguirá o caminho da
cooperação forçada dos outros 25 países, se vai recorrer à justiça ou se espera ainda renegociar o acordo.
A outra bota a descalçar resulta da prioridade, assumida pela Presidência portuguesa, de defender o pilar
dos direitos sociais, incluindo a não discriminação e a inclusão social. Muito bem, até aqui muito bem.
Já não está tudo bem quando, de seguida, aparece a relação com a Índia, um país com diversas violações
de direitos humanos, conhecidas recentemente, e um país com um governo nacionalista hindu, rotulado por
muitos como de extrema-direita e autor de medidas como: a rogação da autonomia especial de Caxemira e
Jammu, a lei da nacionalidade, que discrimina com base em critérios religiosos, perseguições e detenções de
defensores de direitos humanos e de jornalistas.
Sr. Primeiro-Ministro, imagino que me vá falar da importância das relações históricas entre Portugal e a
Índia,…
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Não!
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — … mas será que devemos fingir que não vemos as violações de direitos humanos em qualquer país com o qual temos uma história comum? Porque quer em relação ao regime
de Narendra Modi, na Índia, como em relação ao regime comunista chinês, a bota a descalçar é a mesma: é
imperioso exigir o cumprimento das regras básicas do Estado de direito e dos direitos humanos que, na nossa
opinião, são valores que não devem estar à venda.
O Sr. André Silva (PAN): — Muito bem, João!
O Sr. Presidente: — Para a intervenção de encerramento deste debate, tem a palavra o Governo, pelo Sr. Primeiro-Ministro, António Costa.
Faça favor, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, primeiro, quanto à Índia, não tem a ver com a História, tem a ver com o presente e com o futuro.
Para a Europa é fundamental que o mundo não seja um mundo bipolar. É fundamental, designadamente,
que a Europa tenha uma presença cada vez mais forte na região Indo-Pacífico e essa relação deve ser plural.
E da mesma forma que para nós é prioritário concluir acordos de comércio, por exemplo, com a Austrália e com
a Nova Zelândia, que estão em curso, é absolutamente fundamental valorizar aquele que é o segundo grande
país do Indo-Pacífico e que é a Índia.
Aplausos do PS.
Relativamente à questão colocada pelo Sr. Deputado André Ventura, a resposta é muito simples: a Turquia
não cumpre com os critérios de Copenhaga, portanto, a Turquia não pode entrar para a União Europeia.
O Sr. Deputado José Luís Ferreira sublinhou a importância da vacina, que, como já o disse aqui, é
fundamental e é um bom exemplo de como a União Europeia pode agir de uma forma solidária, cooperando
para enfrentarmos um problema que é também um desafio global. Este ano, ou melhor, o próximo ano, sendo o
ano europeu da ferrovia, é, aliás, uma excelente ocasião, que a Presidência portuguesa colocará no centro das
suas prioridades, de valorizar esse instrumento fundamental para combater as alterações climáticas.
Portugal é a favor da Diretiva CbCR (Country-by-Country Reporting), que obrigará as multinacionais a
divulgar os seus rendimentos país a país. Desde que haja condições no Conselho para a sua aprovação, que
requer maioria qualificada, agendá-la-emos para o Conselho e faremos avançar essa temática.