15 DE JANEIRO DE 2021
7
O Sr. Paulo Rios de Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por cumprimentar o Conselho de Administração da Fundação Eça de Queiroz e os familiares de José Maria de Eça de Queiroz,
aqui presentes.
Ao contrário de outras distinções ou homenagens, a concessão das honras de Panteão é da competência
exclusiva da Assembleia da República e tal ato será sempre fundamentado, revestindo a forma de resolução
da Assembleia da República, conforme hoje fazemos.
Para nós, este não é, nem pode ser, um ato qualquer, nem sequer comum. Se considerarmos que tais
honras se destinam a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que prestaram altos
serviços ao País, e escuso-me de repetir, perceberemos que a singularidade e a relevância desta concessão
estão reservadas a poucos, a muito poucos.
Várias têm sido as iniciativas ou os votos que aspiram a homenagear ou conceder honras várias e que
suscitam, neste Parlamento, reservas ou receio de banalização ou vulgarização do que deve ser raro e
valorizado. Mas, felizmente, não é este o caso, não é o caso de José Maria de Eça de Queirós.
Dos nossos, foi um dos maiores e a sua obra, a sua memória e a frescura e atualidade do seu legado
continuam bem vivas na nossa memória coletiva. Apetece dizer que Eça de Queiroz não foi, Eça de Queiroz é!
Continua a ser único, reconhecido e muito atual.
Embora falecido há 120 anos, manteve até hoje o reconhecimento unânime de ser um dos maiores
romancistas da história da literatura portuguesa. E o tempo passou e Eça continuou a ser Eça, sem que
ninguém lhe faça sombra ou provoque o esquecimento.
A sua forte ligação de nascença à Póvoa de Varzim não pode ser esquecida, pois esse sentimento de
pertença era assumido com orgulho pelo próprio, nomeadamente pela evidência da célebre expressão contida
numa das suas correspondências trocadas com Pinheiro Chagas: «Eu sou apenas e só um pobre homem da
Póvoa de Varzim». Foi, aliás, com origem na Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim que foi recentemente
aprovada, por unanimidade, uma notável moção de apoio a esta iniciativa.
Não ignoremos também que Eça de Queiroz está ainda hoje sepultado num jazigo de família em Santa
Cruz do Douro, concelho de Baião, local da sede da Fundação Eça de Queiroz, na Casa de Tormes, e que,
legitimamente, Baião reclama Eça de Queiroz como parte da sua própria história e património imaterial.
Aos baionenses teremos de pedir desculpa por este atrevimento e compreendemos a relutância, mas
ajudem-nos a reconhecer e a perpetuar a dimensão nacional e até internacional desta figura ímpar da nossa
História.
Muito já foi dito sobre o homem e a obra que hoje provoca este debate, mas permitam-se somente realçar
que Eça de Queiroz não foi só — e não era pouco — um romancista único. Foi um humanista consequente em
Cuba e um mordaz e irónico observador dos portugueses, em especial dos poderosos, dos dirigentes e dos
políticos. Por vezes, sinto que me cruzo com algumas das suas personagens, se bem que com diferentes
nomes e roupagens, nesta mesma Assembleia. Além disso, tem um percurso profissional que o levou a
diferentes países, realidades e personagens, o que lhe confere uma mundividência singular. Talvez por tudo
isto não espante que seja um autor tão lido e tão traduzido.
Posto isto, naturalmente, o PSD acompanha e subscreve esta proposta, que, cremos, a todos une, seja na
concessão de honras de Panteão Nacional aos restos mortais de José Maria de Eça de Queiroz, em
reconhecimento e homenagem pela sua obra literária ímpar e determinante na história da literatura
portuguesa, seja na constituição do grupo de trabalho nos termos formulados neste projeto do Partido
Socialista, que saudamos.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do PCP, a Sr.ª Deputada Ana Mesquita.
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PCP saúda a propositura de honras de Panteão Nacional no ano em que se assinalam os 175 anos do nascimento e os 120 anos da morte
de um dos grandes escritores da língua e da literatura portuguesas, José Maria de Eça de Queiroz.