O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

I SÉRIE — NÚMERO 38

8

Poveiro de nascimento, Eça de Queiroz está sepultado no jazigo da família, em Santa Cruz do Douro, no

concelho de Baião. E, com o intuito de lançar o repto, a Fundação Eça de Queiroz, que saudamos, propôs-se,

então, este ano, ajudar a promover todas as condições necessárias a que fossem atribuídas as honras de

Panteão Nacional a este escritor.

Assim, podemos dizer que a trasladação é apoiada pela Fundação, que a considera justa e defende tratar-

se da melhor maneira de perpetuar a memória do escritor, que é um dos escritores portugueses mais lidos.

Aliás, o próprio Presidente da Fundação referiu o seguinte: «Numa época em que os índices de leitura, em

particular entre os estudantes, baixam assustadoramente, tenho a esperança, talvez ingénua, de que um

acontecimento como este alerte para a maravilhosa descoberta da leitura». Também o PCP assim o espera,

porque é urgente descobrir e redescobrir a literatura e os escritores portugueses e incentivar à leitura. Esta é,

também, uma ocasião para celebrar este aspeto e assinalar esta urgência. Nós assim o acompanhamos.

Eça participou num movimento transformador da vida literária e intelectual, tendo sido um verdadeiro

ativista neste campo, como noutros campos da vida, nomeadamente nos tempos da Geração de 70, de que

tantas vezes aqui falamos, que agitou Coimbra e o restante País e que gerou polémica com a chamada

«Questão Coimbrã». Nós gostamos de assinalar esta situação porque teve tantas ramificações que ainda hoje

têm impacto na nossa vida cultural. Assinalamos também que, sob o impacto revolucionário da Comuna de

Paris, o alargado grupo do Cenáculo veio a programar as célebres Conferências Democráticas, que foram

realizadas no Casino Lisbonense, e alguns jovens desta geração acabaram mesmo por aderir à Internacional.

Foi o caso não só de Eça, mas também de Antero e de Batalha. Foram tempos muito agitados e muito vivos

que nós aqui relembramos.

Infelizmente, o Governo de Marquês de Ávila acabaria por publicar uma portaria que proibiria as

Conferências e encerraria o Casino, apesar de um protesto dos conferencistas, que também foi subscrito por

Eça de Queiroz, não tendo, nessa altura, deixado de intervir.

Eça era, efetivamente, dono de uma capacidade de fina ironia e de análise crítica da realidade. Evidenciou-

o em múltiplas ocasiões, não só nas personagens, nos cenários e nos contextos que criou, mas também

noutros escritos, como, por exemplo, nas Farpas.

Há um excerto muito giro e muito interessante que gostaríamos de citar e que tem a ver com todas estas

agitações. A certa altura, Eça escreve: «Então indaguei sobre o que realmente o Governo me fazia honra de

supor: chefe republicano, orador de clubes, organizador de greves, agente da Internacional, delegado de Karl

Marx, representante das associações operárias, cúmplice nos incêndios de Paris, ex-assassino do Monsenhor

Darboy, redator secreto das proclamações, receleur de Pretole, enfim, amigo forçado. Nunca como até agora

fui honrosamente acumulado de dignidades. Transbordo de ocupações, sucumbo de importância e, enfim, eu

era sempre seguido por um polícia».

A excelência da obra de Eça de Queiroz foi reconhecida por tantos e merece destaque, entre outros, um

comentário, que achamos muito curioso, de Camilo Castelo Branco, na terceira versão de O Crime do Padre

Amaro, a segunda edição em livro. Diz, então, Camilo Castelo Branco: «É uma obra-prima que há de resistir

como um bronze a todas as evoluções destruidoras da escola e da moda». Acreditamos que assim o seja e,

por isso, reconhecemos a oportunidade deste projeto no sentido de conceder as honras de Panteão Nacional

a José Maria de Eça de Queiroz.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Silva, do PAN.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Cumprimento os familiares e membros do Conselho de Administração da Fundação Eça de Queiroz.

Existem inúmeras figuras históricas de merecido renome e reconhecimento, mas são poucas as que

recebem aclamação unânime. Eça de Queiroz é uma delas.

A sua visão, clara e profunda, sobre as mais variadas situações do desenrolar quotidiano da vida permitiu-

lhe trazer, através do seu brilhantismo literário, para as páginas dos seus livros, uma caracterização do ser

humano e da sociedade que é atemporal.