12 DE MARÇO DE 2021
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A Sr.ª Catarina Rocha Ferreira (PSD): — … num País onde não há coesão territorial sem água? Sim Sr.ª
Ministra, só com água é possível ser resiliente na agricultura, só com água é possível ter uma ambição de maior
preservação na biodiversidade e, nessa medida, apesar de o Partido Socialista discordar, o tema devia ser
central nas políticas públicas, e não o é.
Por outro lado, onde está a transição digital na agricultura, Sr.ª Ministra? Não está. Foi com estupefação que
o PSD verificou que um Governo que fala, dia sim, dia sim, de transição digital não faz uma referência à
agricultura ou ao mundo rural.
Onde estão as medidas que reforcem as cadeias de valor nos mercados locais? Onde estão as medidas e o
financiamento para modernização e redimensionamento das cooperativas e outras organizações de produtores
que as tornem mais resilientes à agressividade do mercado? Onde está o plano que preveja implementar um
sistema integrado de reutilização dos efluentes das explorações pecuárias, com possibilidade de interação na
gestão florestal, criando uma verdadeira economia circular?
Ainda sobre a parte florestal, abandonada por este Governo ao tirá-la da tutela da Sr.ª Ministra, o Plano de
Recuperação e Resiliência não tem nenhum complemento às medidas florestais aprovadas no Conselho de
Ministros da semana passada, que, lamentavelmente, tratam a floresta sem a olhar como um território produtivo
de multifuncionalidade.
Sr.ª Ministra, como é fácil de constatar, o setor agroflorestal está mesmo ao abandono por parte do atual
Governo.
O Sr. Adão Silva (PSD): — É verdade!
A Sr.ª Catarina Rocha Ferreira (PSD): — Na agricultura, pela completa submissão ao discurso radical
daqueles que não gostam do mundo rural e, pior, por grave falta de visão estratégica, verifica-se uma ausência
total de política agrícola e uma sujeição do País a discursos disruptivos, perante um setor que
extraordinariamente sobrevive às constantes alterações de orientação da PAC (política agrícola comum) graças
ao investimento e à inovação dos próprios agricultores.
Na floresta, o deslumbramento é igualmente grave. Não se percebe de território rústico quando se despreza
a multifuncionalidade da floresta e o resultado é a concentração de ações nas matas urbanas ou em paisagem
de livro infantil.
Sr.ª Ministra, não posso terminar sem lhe dizer uma última coisa: ainda vamos a tempo de recuperar. Oiçam
o setor, definam objetivos e dotem o País de financiamento para que o nosso abastecimento alimentar se
fortaleça, tornando-o ainda mais resiliente, porque o nosso mundo rural continua a produzir bens ambientais que
não têm preço.
Sem agricultura não há preservação nem promoção da biodiversidade. E não há ambiente a defender se
mais de metade do nosso território for deserto.
Apelamos, por isso, a todo o Governo para que oiça a Eurodeputada socialista que, ainda há dias, alertou
para que os agricultores sejam incluídos e ouvidos na implementação das medidas.
Até quando teremos de esperar, Sr.ª Ministra? Até quando teremos de esperar para que um setor tão
essencial à nossa sobrevivência volte a ser tratado com a seriedade que merece?
A agricultura e o mundo rural merecem bem mais respeito e atenção por parte de V. Ex.ª!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Pedro do Carmo, do Grupo
Parlamentar do PS.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo e Srs. Deputados: Portugal, a
Europa e o mundo estão com um enorme desafio de saúde pública, o maior e o mais exigente de há décadas,
em virtude da pandemia. Neste contexto, Portugal precisou do mundo rural, da sua capacidade produtiva, dos
nossos agricultores e dos seus produtores, e eles disseram «presente».
Vozes do PS: — Muito bem!