I SÉRIE — NÚMERO 52
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Todas estas questões são importantes, mas não são matérias em que esta área governativa possa impor
unilateralmente soluções, apesar de alertarmos várias vezes e de as querermos trabalhar, se, de facto, assim
houver interesse.
Dizer «emergência climática» não é olhar apenas para um setor, é fazer este trabalho também, que é muito
e difícil. Mas, ao contrário do esperado, parece que alguns Deputados querem que se ignore o princípio do
poluidor-pagador e se chame ao Estado o custo e a responsabilidade pelo tratamento da poluição e da produção
de resíduos, sejam eles do indivíduo ou da empresa.
Tal tem sido o foco dado pelos Srs. Deputados à TGR, num diploma tão extenso e inovador, que parecem
não estar preocupados com o que estas metas irão exigir e parecem desconhecer, ou ignorar, as razões pelas
quais este diploma se distingue pela positiva.
Ignoram como estamos a reservar os 30% da TGR para investimentos dos municípios; como estamos a
apoiar, por esta via, as forças de segurança e de inspeção nas ações ambientais, como a IGAMAOT (Inspeção-
Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território), a GNR (Guarda Nacional
Republicana) e a PSP (Polícia de Segurança Pública); como, até 2025, as tarifas cobradas pelo serviço deixarão
de estar associadas ao consumo da água; como, em 2024, teremos de ter uma rede para os biorresíduos; a
simplificação do processo de desclassificação de resíduos para subproduto, para ser mais fácil substituir
matérias-primas; a proibição da deposição em aterro dos resíduos provenientes da recolha seletiva e de
biorresíduos…
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr.ª Secretária de Estado, peço-lhe para terminar.
A Sr.ª Secretária de Estado do Ambiente: — Enfim, são várias as medidas que este decreto-lei introduz e
que rompem com o passado.
Ao invés disso, continuamos a falar de custos, de interesses, de aterro, em vez de falarmos de redução, de
reutilização e de reciclagem.
Se assim continuarmos, aconselho aos Srs. Deputados que comecem a discutir com os seus autarcas sobre
quem estará disponível para acolher centrais de incineração e aterros.
Nós preferimos continuar a trabalhar para incentivar a economia circular e a descarbonização.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para encerrar este debate, tem a palavra o Sr. Deputado Nelson
Peralta, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Nelson Peralta (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por mencionar aquilo que não
aconteceu, mais uma vez, neste debate. Refiro-me ao facto de o PSD não ter aproveitado a ocasião para dizer:
«Vejam bem! Privatizámos a EGF e correu tão bem!»
Mas algo de estranho ocorreu. É que o Sr. Deputado do PS Hugo Pires veio vestir a camisola da privatização,
defendendo as empresas privatizadas. Aliás, o PS, em 2015, assinou um acordo com o Bloco de Esquerda para
a nacionalização da EGF e agora vem defender a privatização?! Como o PS mudou nestes anos!
A Sr.ª Secretária de Estado falou com muita confiança, com muita força. Só há um problema, que é a
realidade. É que não há uma única meta que seja cumprida nos requisitos.
As empresas, em particular as empresas privatizadas, como a EGF, são um desastre, e a Sr.ª Secretária de
Estado vem falar como se estivesse tudo a correr bem. Não está!
Mas a frase-chave da Sr.ª Secretária de Estado é esta: quer um setor com serviço com contas certas.
Sr.ª Secretária de Estado, serviço com contas certas para quem? Para a Mota-Engil, ou para as pessoas,
nomeadamente na sua tarifa reduzida, na tarifa social, numa tarifa igual para quem vive no interior e não seja
penalizado por isso e, também, nas metas? É que a Mota-Engil pode ter contas certas no banco, mas nas metas
e nas suas obrigações para com o País e para com as pessoas tem só contas completamente erradas.
Portanto, aquilo que esperávamos da Sr.ª Secretária de Estado é que apoiasse as propostas que o Bloco
traz, para haver mais recolha seletiva, mais fluxos de resíduos, mais recolha porta a porta e para que se possa
reduzir os resíduos para aterro.