I SÉRIE — NÚMERO 53
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Dizem que há um problema. Esse problema é o da falta de alcance e de aplicação destas medidas. O
problema é que o Partido Socialista, no discurso, tem as tónicas todas certas, mas, depois, na prática, fica muito
por fazer. É esse problema de alcance e de execução que não compreendemos.
São opções, sim senhor, tal como são opções quando, «na hora da verdade» — como disse a Sr.ª Deputada
Sandra Pereira, que muito critica o Governo, e bem, nesta matéria —, em fevereiro passado, quando se estava
a discutir a questão das barragens e o PCP apresentou uma proposta, ela só foi inviabilizada porque o PSD não
se colocou do lado do impedimento desse negócio. É matematicamente impossível, neste momento, aprovar
propostas que contrariam opções erradas do Governo sem o contributo do PSD e ou se abstêm ou votam contra!
Portanto, são corresponsáveis por estas opções erradas que apontámos.
A Sr.ª Sandra Pereira (PSD): — Não, não!
A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — São responsáveis pelos abusos e pela falta de cumprimento da legislação
laboral, junto dos trabalhadores.
São responsáveis pelo despedimento dos trabalhadores da Eurest.
Vozes do PSD: — Não, não! Não tem nada a ver!
A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — São responsáveis pelo despedimento dos trabalhadores da ISS Facility
Services, que, quando acabaram os 60 dias que perfaziam os critérios do layoff, se puseram a despedir e não
estão a ter consequências nenhumas por causa disso.
São responsáveis, também, pela limitação dos apoios socias, sim senhor, porque não viabilizam a execução
e não viabilizam as propostas do PCP para que eles cheguem à prática e à vida das pessoas.
São responsáveis, sim senhor, pelo negócio ruinoso da EDP e por esta moscambilha fiscal que está montada.
São responsáveis por não se dar andamento à vacinação dos portugueses.
São responsáveis por optar sempre pela classe de quem mais tem. Optam sempre pelo lucro e deixam
sempre para trás quem menos tem, quem vive do seu trabalho e quem não pode viver sem os apoios que
propomos.
Aplausos do PCP.
Vozes do PSD: — É uma cassete!
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Regressamos às declarações políticas e, para o efeito, tem a
palavra o Sr. Deputado João Gonçalves Pereira, do CDS-PP.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não deixa de causar
um travo amargo saber que é a última vez que pronuncio esta saudação nesta mesma Câmara. É a minha última
intervenção nesta Câmara, enquanto Deputado à Assembleia da República.
Gostaria de evocar, antes de cumprimentar quem de direito, um poeta irlandês. Escreveu ele que «um
homem é original quando afirma a verdade que foi sempre conhecida por todos os homens bons.»
A verdade é que uma renúncia parlamentar tem muito pouco de original. Já assistimos a várias, vindas de
várias bancadas. Na política, particularmente em democracia, não há nada de excecional numa despedida. Os
ciclos passam, os rostos mudam e as ideias alteram-se. É assim que deve ser.
Não venho, por isso, fazer um discurso que se resuma a um «adeus», até porque não tenciono abandonar a
militância partidária nem tão-pouco a intervenção cívica. Dedicar-me-ei, nos próximos meses, se o meu partido
assim mo permitir, ao combate local, porque é nas autárquicas que se apura a força de um partido e também
por acreditar que o CDS precisa, mais do que nunca, de dar prova de vida.
Mas, para não desperdiçar a evocação do poeta, permitam-me recuperar alguma originalidade.
Fui Deputado em três legislaturas distintas, em três situações igualmente distintas: no apoio a um Governo
que enfrentava uma crise financeira; na oposição a um Governo que gozava de uma enorme popularidade; e,
por último, agora, na oposição a um Governo que enfrenta uma pandemia.