1 DE ABRIL DE 2021
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Tem a palavra, em primeiro lugar, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do CDS-PP.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Por iniciativa do CDS,
discutimos hoje um projeto a que se juntaram vários outros, de diferentes partidos, para aperfeiçoar e tornar
mais justo o Programa APOIAR.
Quando já vamos com mais de um ano de pandemia, é possível fazer um balanço, ainda que prévio, dos
apoios que o Governo desenhou e tem vindo a desenhar ao longo deste ano.
Para além dos apoios ao emprego, a filosofia e a prática de intervenção do Governo centraram-se, sobretudo,
em linhas de crédito e em moratórias, sendo que os apoios a fundo perdido, de que o APOIAR é o exemplo mais
acabado, chegaram apenas numa segunda fase da pandemia e em modo muito, muito reduzido.
Se pensarmos que o próprio Governo estimava, no ano passado, em 2020, que o valor que as famílias não
pagaram aos bancos, e que ficou em moratória, foi de 6100 milhões de euros, enquanto que os pagamentos do
Programa APOIAR às empresas iriam em 620 milhões, já a entrar no ano de 2021, percebemos que os apoios
a fundo perdido foram um décimo das moratórias — repito, Sr.as e Srs. Deputados, um décimo.
Ainda ontem ouvimos a associação que representa as agências de viagem alertar para o facto de ainda não
ter sido pago um cêntimo ao abrigo do programa APOIAR RENDAS.
O facto de o pano de fundo desta escolha do Governo continuar a ser a propaganda de milhões atrás de
milhões — e ainda nas semanas passadas ouvi falar em mais 1000 milhões, ou mais 6000 milhões — é ainda
mais perturbador, porque não corresponde à realidade. E o resultado da diferença entre o que sente um
empresário que não consegue, pura e simplesmente, sobreviver, porque tem de estar encerrado e não pode
trabalhar, quando vê estes anúncios de milhões atrás de milhões é, sem dúvida, a indignação.
Há aqueles que dizem indignar-se muito com o populismo e que ouço fazerem discursos muito politicamente
corretos sobre o populismo. Talvez valha a pena pensar nas raízes desta indignação e perceber que fazer
política com verdade é melhor do que qualquer discurso para combater o populismo.
Sr.as e Srs. Deputados, o projeto que hoje apresentamos não resolve todos estes problemas, mas pode
resolver um problema, um problema concreto, de forma simples, justa e fácil. Explicando, há restaurantes que
continuaram a trabalhar da única maneira que podiam, ou seja, com recurso a plataformas de entrega. Ora, no
caso de algumas destas plataformas — embora não de todas —, o serviço prestado é faturado ao cliente final
pelo restaurante e, depois, é pago pelo restaurante à plataforma. Resultado: o que é que isto significa? A
faturação dos restaurantes é, desta forma, empolada, têm mais faturação, de modo que não podem aceder ao
Programa APOIAR. Mas, na realidade, têm custos correspondentes a este aumento, que é o custo do serviço
da plataforma.
O que propomos é que as regras do Programa APOIAR sejam revistas e sejam adaptadas para que estes
restaurantes não sejam excluídos, ou seja, para que estes restaurantes que optaram por continuar a trabalhar
não sejam excluídos face a restaurantes que não puderam ou optaram por estar encerrados durante este
período.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada
Bebiana Cunha, do PAN.
A Sr.ª Bebiana Cunha (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quando o PAN deu entrada desta
proposta de recomendação, há mais de um mês, pretendia que a Assembleia da República recomendasse ao
Governo a resolução de um problema que, em boa verdade, não deveria ter acontecido com os programas de
apoio às pequenas e médias empresas. Isto é, nestes referidos programas, o Governo só garantia estes apoios
a empresários em nome individual que tivessem trabalhadores a seu cargo, o que era, de facto, irrazoável.
Mais de dois terços das PME em Portugal são representadas por empresários em nome individual. Em 2018,
existiam, em Portugal, cerca de 874 000, o equivalente a 67% do total das empresas, das quais 200 000 têm
atividade nos setores do comércio e da restauração. Mais de 70% destes empresários em nome individual não
têm outros trabalhadores para além de si próprios.
Todos sabemos que, nos setores mais afetados pela restrição das atividades económicas, quanto menor for
a dimensão da empresa, por norma, maior é o impacto na vida das pessoas.