I SÉRIE — NÚMERO 53
68
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Muito bem!
O Sr. Carlos Silva (PSD): — A falta destes apoios do Governo foi substituída pela almofada das moratórias
e disfarçaram o embate e o choque da realidade da crise que atravessamos. Não sei se isto aconteceu por
incompetência ou por desmazelo do Governo.
Com uma economia altamente endividada, com quebras acentuadas de rendimento, o único recurso de
emergência que o Governo tinha, as moratórias, são suspensas, quando a razão da adoção destas, como
política pública, está muito longe de ser superada.
O Governador do Banco de Portugal recomendou, em dezembro passado, que não se retirassem estímulos
e incentivos à economia sem que a economia progrida, mas o Governo, do qual era Ministro das Finanças até
há bem pouco tempo, ignorou-o olimpicamente.
Não terminou, ainda, a pandemia, não se sabe, ainda ao certo, se a economia portuguesa sai dos cuidados
intensivos e o Estado já se apresta, sem qualquer alternativa, a retirar os apoios e incentivos, esquecendo-se
dos milhares e milhares de portugueses que estão a ficar para trás.
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Muito bem!
O Sr. Carlos Silva (PSD): — Portugal tem, em moratórias, mais do dobro do volume dos outros países da
União Europeia. Não percebemos porque é que o Governo não ouviu os alertas e não tocaram as campainhas
no Ministério das Finanças.
Esta situação é explosiva: 23% do crédito total está em moratórias. Somos o segundo país da União Europeia
com mais recurso a moratórias. Lamentavelmente, não temos qualquer conhecimento de medidas paliativas do
Governo que, responsavelmente, compensem a retirada dessas mesmas moratórias.
A deterioração da economia no 1.º trimestre foi violenta, colocou pressão sobre os principais indicadores
macroeconómicos. O desemprego está a aumentar, as falências estão a disparar, os setores inteiros estão
parados. Portugal foi dos países que menos usou recursos públicos para ajudar as empresas a protegerem-se
dos efeitos da pandemia. O INE estima que apenas 2,3% do PIB foi utilizado no impacto e na ajuda às empresas;
o saldo orçamental ficou mais de 3400 milhões além do previsto, em contabilidade pública; o Orçamento foi
elaborado para uma evolução da economia que é irreal, que não vai acontecer.
Por isso, o PSD está muito preocupado e agirá de forma responsável no sentido de encontrar as melhores
soluções que ajudem as famílias e as empresas a superar esta crise.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Fernando
Anastácio, do PS.
O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Sr. Deputado Carlos Silva não foi
capaz de dizer aqui aquilo que o seu partido disse ontem, ou seja, que, relativamente às moratórias, iriam votar
favoravelmente o projeto do Partido Comunista Português, sabendo que não estão de acordo com esse mesmo
projeto e que, no final do dia, a solução proposta é impossível.
A respeito das moratórias, o que o PSD está a tentar fazer é, perdoem-me, um exercício de hipocrisia.
Chama-se a isto, com toda a frontalidade, enganar os portugueses e não dizer ao que vêm!
Ainda ontem, o Sr. Governador do Banco de Portugal — e o PSD sabe-o — disse-nos, na Comissão de
Orçamento e Finanças, que a prorrogação das moratórias fora do enquadramento europeu teria consequências
gravosas para a economia portuguesa e também disse que esse enquadramento era extremamente difícil.
Como referi, prorrogar as moratórias só pode ser feito no quadro europeu, e isso não está previsto no projeto
do Partido Comunista Português, em relação ao qual os Srs. Deputados do PSD anunciaram que iriam votar a
favor.
Ir por este caminho é colocar as empresas e as famílias beneficiárias de moratórias na qualidade de
incumpridoras e impedi-las de acederem aos serviços bancários.