15 DE MAIO DE 2021
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Acha o Bloco de Esquerda que, não conseguindo o Governo resolver o problema, não é obrigação sua,
enquanto partido — não sei se é da situação, se é da oposição, tem dias! — que tem assento nesta Assembleia
da República, exigir do Governo o cumprimento das suas obrigações. Como é normal no Bloco de Esquerda,
não exige do Governo, exige dos senhorios.
Portanto, quem vai, mais uma vez, fazer política social em Portugal, segundo o Bloco de Esquerda, são os
proprietários das habitações, são os senhorios.
Esta lógica provou, no passado, que levava, como levou, à degradação absoluta do parque habitacional em
Portugal, a uma crise brutal de habitação, principalmente nos maiores centros urbanos, e a uma degradação
das condições de vida dos inquilinos.
Parece que, aos olhos do Bloco de Esquerda e de outras forças políticas deste Parlamento, o facto de se
aumentarem sucessivamente as obrigações sobre os senhorios — muitas vezes sobre senhorios de idade
avançada e com condições económicas também enormemente difíceis — é um problema apenas para os
senhorios.
Para nós, isso já era suficiente, porque os senhorios também são pessoas, com igual dignidade e merecem
o mesmo respeito que quaisquer outros cidadãos, mas os senhores ignoram a consequência que isso tem, que
é a de piorar sucessivamente as condições de vida dos inquilinos. Parece que isso não importa nada!
Então, o facto de não haver condições para fazer obras de conservação e para manter a dignidade das
habitações não é um problema de quem lá vive, é um problema de quem é dono?! Isso só aos olhos do Bloco
de Esquerda e do PCP! O problema maior é para quem lá vive, obviamente, porque vai viver em piores
condições.
Portanto, essa lógica de política panfletária e programática, que resulta bem só nos slogans que os senhores
promovem, tem, neste Parlamento, de ter uma consequência, que é a do chumbo, porque, se aprovássemos
aquilo que o Bloco de Esquerda hoje vem propor, tínhamos pior habitação, piores condições para os inquilinos,
piores condições para quem tem mais dificuldade e muito maior liberdade para o Governo não cumprir a sua
obrigação.
A única entidade que ficava melhor, se esta proposta do Bloco de Esquerda fosse aprovada, era o Governo.
Era o único que beneficiava deste projeto que nos apresenta o Bloco de Esquerda. Não beneficiavam nem
inquilinos, nem pessoas que queiram ter acesso à habitação e não têm, nem senhorios — ninguém! —,
beneficiava o Governo.
Como não estamos aqui para fazer favores ao Governo, não vamos aprovar a iniciativa do Bloco de
Esquerda.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura, do Chega.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Este projeto de lei do Bloco de Esquerda chama-se «regime extraordinário de apoio à manutenção da habitação» mas podia chamar-se «regime
extraordinário de destruição do mercado e da economia», porque, de facto, é difícil ver um projeto com tanto
desequilíbrio como este.
O Bloco de Esquerda propõe, basicamente, que passe a caber aos senhorios e aos proprietários o
pagamento de toda a dívida e de toda a fatura da crise.
Uma redução de dívidas em 20%, um escalonamento em 36 meses é algo que não se vê em nenhum país
da Europa. Em nenhum país da Europa temos um regime como este.
A consequência seria óbvia e evidente: além da inconstitucionalidade, haveria um desequilíbrio estrutural
entre quem tem o dever de garantir a propriedade e quem tem o direito de a usufruir. Nunca visto! Seria uma
autêntica destruição do mercado e um favor ao Governo socialista.
Mas há uma questão que devemos levantar, porque, de facto, o Partido Socialista tinha prometido, em março
de 2020, que apoiaria os senhorios e os proprietários neste desequilíbrio entre os que pagam e os que habitam,
neste desequilíbrio provocado pela pandemia. Passado mais de um ano, o que temos?! Empréstimos que nunca
chegaram, crédito que nunca se concretizou e dívida acumulada para aqueles que, durante anos, tiveram de