I SÉRIE — NÚMERO 72
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Na verdade, é para muita gente um direito dramaticamente condicionado pelo rendimento disponível ou, dito
de outra forma, a falta de rendimento impede muitas pessoas de aceder a cuidados e terapêuticas necessários,
nomeadamente a medicamentos.
Num País onde continuam a prevalecer os baixos salários e as baixas pensões, as despesas em saúde são
vezes demais insuportavelmente gravosas e o aceso a medicamentos prescritos é vezes demais
insuportavelmente dificultado.
Não são infelizmente poucos os casos de quem espera pelo dia de receber o salário ou a pensão para ir à
farmácia. Também não são poucas as vezes em que, mesmo nesses dias, a receita médica não é inteiramente
aviada por falta de dinheiro.
Portugal é um País com mais carga de doença a partir dos 60 anos e é um País onde as despesas em saúde
chamadas «out-of-pocket», ou seja, despesas de saúde suportadas pelos próprios utentes e familiares, são
elevadas.
Somos um País onde as doenças crónicas são muito prevalentes e a prescrição de medicamentos para
controlo dessas doenças é importante, mas, ao mesmo tempo, onde a situação socioeconómica de muitos
agregados impede a aquisição de toda a medicação prescrita.
Dados do Infarmed revelam ainda que, embora tenha sido registada uma subida de 2,4% na comparticipação
de medicamentos, em 2020, os portugueses compraram menos 4 milhões de embalagens de fármacos, o que
parece indiciar claramente uma maior dificuldade de acesso efetivo.
Em relação ao acesso a medicamentos em alturas específicas do mês, os dias 8 e 22 de cada mês têm sido
de pico na compra de medicamentos, pelo menos desde 2019, revelando que os portugueses esperam pelos
dias de receber o salário ou a pensão para poderem aceder aos medicamentos que lhes são receitados.
Os medicamentos para doenças crónicas, como a diabetes, a hipertensão ou os antidepressivos, são os
mais procurados, sendo também coincidentemente os medicamentos sujeitos a prescrição.
Esta situação está a ser intensificada e agravada pelas consequências decorrentes da pandemia da COVID-
19, alargando a dificuldade de acesso a medicamentos a cada vez mais faixas etárias e a determinadas
condições sociais.
A crise económica e social, associada a um aumento de doença que ficou descontrolada ou que foi
tardiamente diagnosticada, torna mais urgente ainda um regime especial para garantir o acesso de todas as
pessoas aos medicamentos de que necessitam.
Alargar a comparticipação de medicamentos a todas as pessoas em situação de insuficiência económica é
não só uma medida justa, mas também uma medida de resposta à emergência social que se abateu sobre o
nosso País.
Neste sentido, acompanharemos as duas iniciativas em debate. A iniciativa do CDS é semelhante, se não
mesmo igual, a uma que foi já apresentada no quadro do Orçamento do Estado para 2021 e que teve o voto
favorável do Bloco de Esquerda, e a proposta do PCP também merecerá esse voto favorável.
No entanto, parece-nos que a proposta sobre o aumento da comparticipação de medicamentos pode ir ainda
mais longe. O CDS circunscreve a sua proposta aos idosos mais carenciados. O PCP apresenta uma alteração
à lei que abrange maiores de 65 anos, famílias carenciadas e doentes crónicos, que podem beneficiar de uma
comparticipação a 100% no medicamento genérico mais barato.
O Bloco de Esquerda deu entrada, ontem, de um projeto de lei para contribuir para esta discussão. Propomos
que, quem tenha um rendimento inferior a 14 salários mínimos por ano, tenha uma majoração nos vários
escalões de comparticipação e uma comparticipação total no caso de medicamentos genéricos mais baratos do
grupo homogéneo.
Votaremos a favor de todas as propostas, esperando que, em sede de especialidade, se possa encontrar
uma solução para melhorar o acesso aos medicamentos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Bebiana Cunha, do PAN.