I SÉRIE — NÚMERO 72
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Adicionalmente, temos também de salientar que existe o complemento solidário para idosos, já aqui referido,
onde está previsto um apoio aos idosos com baixos recursos, nomeadamente o reembolso dos medicamentos
não comparticipados em 50%.
Atualmente, estima-se que a população portuguesa com mais de 65 anos seja cerca de um quarto da
população residente. Em 2020, esta faixa etária foi responsável por 59% do total das embalagens dispensadas
com comparticipações. Os pensionistas foram responsáveis por 30% do total das embalagens dispensadas no
mercado comparticipado no SNS. Significa isto que cerca de metade do consumo da população idosa é efetuada
pelos utentes que beneficiam do regime de comparticipação especial dos pensionistas.
Portanto, há aqui muito trabalho feito e muito apoio aos idosos e aos pensionistas, neste regime especial de
comparticipação de medicamentos.
Compreendemos as vossas propostas, acompanhamos algumas delas, mas não podemos esquecer o que
está já plasmado no regime especial. Fazendo a análise apenas à população pensionista, com os dados que
temos, a taxa média de comparticipação para os utentes pensionistas é de 76%, não considerando o reembolso
dos 50% do complemento solidário para idosos, que ainda acrescenta.
Portanto, Sr.as e Srs. Deputados, temos aqui um regime geral de comparticipação que não é perfeito, que
não é o melhor de todos, mas que é o possível. Todos nós gostaríamos de dar tudo a todos, mas, infelizmente,
não é possível.
Entendemos também que é uma contrapartida significativa para ajudar as pessoas mais vulneráveis, mas
temos também a obrigação de chamar a atenção e de trazer alguns elementos de reflexão: estas medidas
propostas podem visar a dispensa de medicamentos gratuitos e pode haver aqui um incentivo à aquisição
excessiva, que pode até induzir ao desperdício.
Por outro lado — e isto são alertas que estamos a deixar, não quer dizer que não se possa refletir no impacto
das vossas medidas, é importante refletir —, também gostaríamos de salientar que pode também incentivar ao
abuso do mecanismo de comparticipação a 100%, e, por exemplo, a prescrição para outras pessoas,
indevidamente, podendo também ser um potencial motivo de fraude.
Sr.as e Srs. Deputados, o que me apraz dizer, no final da minha intervenção, é que o Grupo Parlamentar do
Partido Socialista entende que as medidas e a legislação existentes colmatam, na sua maioria, os problemas
aqui em discussão.
Também quero realçar outros apoios que são dados, quer ao nível das autarquias locais, quer ao nível da
ação social, que funcionam em rede e fazem um trabalho notável, assim como o trabalho das organizações não
governamentais. Quero também deixar bem claro que estamos ao lado destas populações,…
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr.ª Deputada, faça favor de terminar.
A Sr.ª Joana Lima (PS): — … e que há muitos mecanismos com que podemos colmatar e combater estas necessidades.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Alberto Machado, do PSD.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Alberto Machado (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PSD é sensível à matéria hoje em discussão.
Sr.ª Deputada Joana Lima, o regime de comparticipação de que aqui falou não resolve o problema dos
portugueses mais desfavorecidos. Conhecemos bem a realidade de muitos milhares de portugueses anónimos,
em particular dos mais idosos, que têm dificuldade em comprar medicamentos que lhes são prescritos.
Em 2019, vários estudos referiam que um em cada 10 portugueses deixava de comprar medicamentos
prescritos pelo médico por falta de dinheiro. Mas este problema tem vindo a agravar-se, neste tempo de crise
que o País atravessa.