17 DE JUNHO DE 2021
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Para alcançarmos as metas a que nos comprometemos internacionalmente, e que aqui hoje já foram
faladas diversas vezes, importa aumentar a capacidade do País na produção de energias renováveis,
nomeadamente de energia solar, em relação à qual estamos mais atrás. E temos essa oportunidade: primeiro,
porque gozamos de sol 300 dias por ano, descontando o Algarve, que goza de sol 365 dias por ano; depois,
porque o PRR nos traz o reforço financeiro para ajudar, desde logo, na eficiência energética do edificado.
Temos potencial, temos necessidade e temos, claro, impactos. Há sempre impactos nas medidas que
tomamos.
O primeiro impacto parece-nos ser logo na tarifa. Como temos uma fraca produção solar, compensamos
essa falta de produção com gás. Pagando o gás taxa de CO2, tal reflete-se na tarifa que os portugueses
pagam, e que, aliás, o Sr. Ministro já aqui referiu, num total de 35 milhões de euros.
Mas também tem impactos do ponto de vista visual. Se os parques solares têm uma grande dimensão, têm
um impacto visual no território; se têm uma dimensão mais pequena, têm o impacto das linhas que vão
percorrer esse mesmo território.
Nos últimos tempos, têm aumentado os receios das associações e das populações sobre o impacto da
captação de energia solar, dos parques de energia solar. É verdade que o Governo não escolhe os locais,
escolhe os locais de interseção, e é verdade que a legislação de avaliação de impacte ambiental que existe
garante aos cidadãos que todos esses projetos serão medidos pelos seus impactos, sendo que uns serão
mitigados e outros travados.
Assim, tendo em conta a energia solar de que o País precisa, o que é que isso representa em termos de
impermeabilização do solo, com este tipo de estruturas de produção de energia? Ou seja, em relação àquilo
que o Governo prevê que o País precisa para a energia solar, incluindo não só o que está previsto no Plano
Nacional Integrado de Energia e Clima mas também o que está previsto para a produção de hidrogénio, o que
é que isso tudo representa em termos da superfície do País?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado Adjunto e
da Energia.
O Sr. Secretário de Estado Adjunto e da Energia: — Sr. Presidente, Sr. Deputado, agradeço a sua
pergunta.
Portugal tem, de facto — e não acontece com todos os países —, uma enorme riqueza energética, e,
portanto, somos dos países mais competitivos da Europa e do mundo na produção de energia solar. É uma
riqueza que devemos aproveitar.
Cada adiamento de um projeto de energia solar em Portugal significa que o País consome mais gás. Os
maiores aliados dos produtores de eletricidade por recurso a energias fósseis são todos aqueles que, por
desinformação ou oportunismo político, combatem ferozmente a instalação de painéis solares em Portugal. É
bom que isto seja entendido: cada dia que adiamos a instalação de um projeto de energia solar em Portugal é
mais um dia em que queimamos gás em Portugal.
Os leilões de energia solar foram exatamente desenhados para que fossem os consumidores a apropriar-
se da maioria dos ganhos da instalação dos projetos. Por exemplo, se todos os projetos do primeiro e do
segundo leilão estivessem em funcionamento desde o dia 1 de janeiro, já teríamos poupado, só este ano,
quase 80 milhões de euros nas tarifas de eletricidade. É muito dinheiro!
Portugal tem mesmo uma vantagem não só ambiental, de explorar a produção solar, como económica, que
se traduz no bolso de cada consumidor de eletricidade, das famílias e das empresas. Portanto, é um fator de
competitividade da economia do País.
Tenho ouvido muita gente dizer que devíamos forrar o País com painéis. Se cumprirmos as metas do
PNEC, com a instalação de projetos centralizados e se ainda somarmos mais 5 GW para o hidrogénio, dando
larga folga, estamos a falar de 18 000 ha no País — e 18 000 ha representam 0,2% do território de Portugal
continental. Vou repetir: 0,2%!
Podemos falar de muita coisa e usar muitos adjetivos e muitas expressões, mas há um adjetivo que não
podemos usar que é «forrar o País com painéis», porque isso, pura e simplesmente, não vai acontecer.