18 DE JUNHO DE 2021
49
A grande questão aqui, e vou terminar, Sr. Presidente, é que o fruto deste ano e a consolidação que nos é
apresentada neste ano tem duas manhas: uma é a suborçamentação e a não execução e outra é o facto de a
carga fiscal aumentar de forma encapotada, ao contrário do que disse o Sr. Ministro das Finanças.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Duarte Alves, do PCP.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Secretária de Estado: A discussão sobre a Conta Geral do Estado de 2019 fica limitada na sua atualidade política pelo facto de a discutirmos mais
de um ano e meio depois da execução que é analisada.
O Orçamento para 2019 deu passos positivos, que resultaram da iniciativa do PCP: o alargamento da
gratuitidade dos manuais escolares; o aumento extraordinário das reformas e dos abonos de família; a redução
do valor das propinas e o aumento do complemento de alojamento nas bolsas de estudo; a redução do IVA na
cultura; a eliminação da obrigação de entrega do PEC (pagamento especial por conta) para as micro, pequenas
e médias empresas, entre outras medidas.
Mas há um aspeto que continua a estar presente quando discutimos a execução orçamental: é precisamente
o baixo nível de execução do investimento público, aliás, assinalado pelos pareceres do CES e do Tribunal de
Contas.
O investimento público continua a ser a variável de ajustamento utilizada pelo Governo para cumprir com
aquela que é a sua única obsessão: a redução acelerada do défice, a obtenção do almejado superavit, que foi
conseguido à custa de um baixíssimo investimento público.
E o investimento público faz falta por dois motivos. Em primeiro lugar, porque contribui para o impulso do
investimento privado, essencial quando continuamos a um investimento abaixo do consumo de capital fixo, ou
seja, temos um aparelho produtivo que continua a obsolescer por falta de investimento.
Em segundo lugar, pela falta que faz o investimento público para serviços tão importantes como a escola
pública, o SNS, os transportes ou a habitação.
É óbvio que ninguém adivinhava que vinha aí uma pandemia e uma crise económica como a que estamos a
viver, mas também é verdade que o PCP sempre alertou para as grandes fragilidades que o País enfrenta,
ficando completamente exposto perante situações que não controla, fragilidades essas que exigiam uma
atenção particular ao investimento público, com um efeito muito mais estrutural na economia do que a obsessão
do Governo pelo défice, que continuou a determinar a política e a execução orçamental do Governo, em 2019.
Teríamos outras condições para enfrentar a epidemia se tivesse sido feito mais investimento em hospitais,
em centros de saúde, em meios de diagnóstico, em cuidados intensivos. Teríamos outras condições para
defender a economia se a produção nacional não tivesse ficado sempre para segundo plano.
Mas ao mesmo tempo que o Governo optou por uma política orçamental restritiva no que diz respeito ao
investimento público, há despesas sumptuárias que não deixaram de ser feitas: os encargos com a dívida
pública; os encargos com a banca, com a entrega de mais 1149 milhões de euros para o Novo Banco e de mais
1266 milhões de euros para os veículos do BPN, num esforço financeiro que representa 1,15% do PIB — não
do Orçamento do Estado, mas do PIB —, no ano de 2019; os encargos com benefícios fiscais, que não estão
devidamente justificados, e o Tribunal de Contas dá o exemplo da despesa fiscal com o regime de não-
residentes, que, em 2019, cresceu 13%, cifrando-se em 620 milhões de euros, tornando-se no benefício fiscal
com mais significado, excluindo o IVA; ou ainda as parcerias público-privadas (PPP), que pesaram mais de 1500
milhões de euros em 2019.
E aqui o relatório do Tribunal de Contas diz claramente que «subsiste a desproporção entre os encargos
líquidos das PPP pagos pelos parceiros públicos e o investimento realizado pelos parceiros privados». A
diferença é de 1 para 10 entre os investimentos públicos e os investimentos privados e essa diferença não é
justificada na Conta Geral do Estado.
O que fica claro é que a execução do Orçamento privilegiou a entrega de milhões para os grandes grupos
económicos, seja na banca, seja nas PPP, e que aí não houve poupança. Já no investimento público, o que
vemos é que fica sempre sacrificado em nome da obsessão pela redução acelerada do défice.
Falamos de 2019 mas poderíamos falar de 2021. Sr.ª Secretária de Estado, é essencial o cumprimento das
medidas aprovadas no Orçamento, para que o processo orçamental não perca credibilidade e razão de ser. Por