I SÉRIE — NÚMERO 78
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isso, exige-se ao Governo que remova os bloqueios que o Ministério das Finanças continua a exercer sobre
importantes investimentos e contratações de profissionais.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, do BE.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Gostaríamos de deixar três notas sobre a Conta Geral do Estado que refletem, de alguma forma, críticas
reiteradas que temos feito a esta governação, bem como críticas reiteradas por parte por parte do Tribunal de
Contas e de todas as entidades que têm analisado a Conta Geral do Estado.
A primeira nota tem que ver com a análise aos benefícios fiscais, desde logo com a constatação, também já
referida, de que o regime dos residentes não habituais se tornou no maior benefício fiscal existente em Portugal.
É curioso que o maior benefício fiscal existente em Portugal, exceto o IVA, não beneficie os residentes em
Portugal que aqui pagam os seus impostos e trabalham, acabando por beneficiar residentes não habituais, aliás,
até com danos reputacionais internacionais para o País.
É, acima de tudo, uma enorme injustiça para todos os pensionistas, nomeadamente com baixas pensões,
que pagam aqui os seus impostos e que veem residentes não habituais usar a borla fiscal garantida, que o
Governo insiste, teimosamente, em manter. Essa é uma das críticas e constatações que é deixada pelo Tribunal
de Contas e pela análise à Conta Geral do Estado.
A segunda nota tem que ver com a transparência destes benefícios fiscais. Dos 383 benefícios fiscais em
vigor, só há 179 que são quantificados e, portanto, há uma parte importante da despesa fiscal que continua a
não ser quantificada nem identificada, e esse é um problema de transparência que está por resolver, tal como
há medidas que também estão por pôr em prática, nomeadamente a inventariação do património.
Dizem o Tribunal de Contas e a Conta Geral do Estado que os bens imóveis do Estado não estão
inventariados, que as medidas estabelecidas para o programa, no período de 2009 a 2012, não foram cumpridas
e, portanto, o Estado ainda não tem condições de saber qual é o seu património imobiliário, pois esse inventário
não está feito, com reiterados atrasos no processo.
No entanto, o ponto mais importante da discussão política sobre a Conta Geral do Estado é aquele que tem
vindo a ser feito e que diz respeito ao brilharete, à grande notícia de 2019, do excedente orçamental e de como
ele foi conseguido. Ele foi conseguido, em primeiro lugar, com falta de transparência, porque foi conseguido à
custa de um Orçamento que não fez o que disse que ia fazer — ou que fez o que disse que não ia fazer! — e,
também, com sacrifício dos serviços públicos. É que, como sempre, o que verificamos é uma estratégia do
Governo de subavaliar as receitas e de sobrestimar as despesas.
Por isso, no final do ano, damos sempre conta de que, afinal, o investimento público não foi executado e que
a discussão que tivemos, quando debatemos o Orçamento, quando debatemos as previsões das receitas fiscais,
quando debatemos o investimento em serviços públicos, na saúde, nos transportes, não vale de nada. Essa
discussão não vale de nada porque o Governo não a toma, sequer, como indicativa e, no final do ano, apresenta
contas que não têm nada que ver, mas que têm um padrão. Não é aleatório! Há um padrão, que é o seguinte:
subavaliam-se receitas e sobrestimam-se despesas.
O que diz a Conta Geral do Estado é que o investimento, excluindo concessões, foi de 55% daquilo que tinha
sido orçamentado, sendo que o grosso da falta de execução, que é mais de 1000 milhões de euros, está nos
transportes, nas comunicações, na segurança e na ordem públicas.
A Sr.ª Secretária de Estado apresenta isto como um sucesso e como uma mais-valia para o País, mas eu
acho que era muito mais importante e que, se calhar, o País se teria preparado muito melhor para a pandemia
se tivesse investido tudo o que tinha planeado no Serviço Nacional de Saúde, em vez de querer fazer brilharetes
no final do ano,…
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — É verdade!