1 DE JULHO DE 2021
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Foram anos de uma evolução sustentada, de crescimento do emprego e da qualidade do emprego, com a
melhoria da generalidade dos indicadores do mercado de trabalho até à pandemia, com o crescimento do
emprego, com a diminuição da precariedade e com o aumento dos salários, num quadro de confiança, de
estabilidade e de previsibilidade, mas também de mudanças e de melhorias significativas.
Algumas destas mudanças e melhorias ocorreram por iniciativas parlamentares, como, por exemplo, a
responsabilização das cadeias de subcontratação, a melhoria e agilização da ação especial de
reconhecimento de contratos de trabalho, ou o regime de licenças de parentalidade, em 2019, e outras a partir
de iniciativas do Governo, como, por exemplo, o conjunto alargado de alterações às leis laborais em 2019,
com foco específico no combate à precariedade e na defesa e promoção da negociação coletiva.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, não é diferente nesta Legislatura e não é diferente mesmo no
quadro de uma pandemia.
Como é sabido, a economia e a sociedade portuguesas têm atravessado choques significativos. Vivemos
um decénio marcado por duas crises de grande magnitude: a primeira prolongou-se até meados da década e
implicou um período prolongado de assistência externa; a atual é uma crise pandémica, súbita, imprevisível e
com traços únicos.
De facto, a pandemia veio infligir um choque profundo e imediato sobre a economia, as empresas e o
emprego, um choque profundo que só os apoios públicos têm permitido, ao longo deste ano e quase meio,
amortecer.
Ora, também no período da pandemia, o Governo tomou medidas para proteger o emprego e para alargar
a proteção social de muitas categorias de trabalhadores. O Governo não deixou de aumentar o salário mínimo,
prosseguindo o seu compromisso nesta matéria, e não deixou de tomar medidas para defender a negociação
coletiva.
Mas, nesta década marcada por crises, assistimos também a mudanças profundas na economia, na
sociedade e no trabalho. Vivemos uma aceleração das mudanças nos mercados globais, dos impactos da
automação, da transição energética e climática, e, também, da transição digital, com tradução em novas
formas de trabalho e no aprofundamento de pressões já anteriormente visíveis. Aliás, a pandemia veio,
também, promover e exponenciar essas mudanças, nomeadamente no que a novas formas de trabalho diz
respeito.
É por isso que o quadro que vivemos é um quadro de convergência da aceleração de várias mudanças e
de um contexto de dificuldade muito particular, induzido pela pandemia. É um quadro em que se conjuga a
pressão sobre o emprego, com origem na crise pandémica, com a expansão de novas formas de trabalho e
novas realidades económicas e laborais, num contexto geral de aceleração da mudança.
É por isso que a situação que temos hoje, e que teremos na próxima década, é um quadro diferente da
realidade que vivemos anteriormente, um quadro que coloca novos e indeclináveis desafios às políticas
públicas e à regulação do mercado de trabalho, desafios e mudanças que, muitas vezes, interpelam, também,
velhos desafios e velhas desigualdades.
É por isso que precisamos de nos focar na resposta às dificuldades da pandemia e nos desequilíbrios que
ela acentuou, mas também na resposta às profundas mudanças que estão a ter lugar. Precisamos de nos
concentrar numa agenda do trabalho digno, coerente, transversal, capaz de responder às novas realidades, ao
mesmo tempo que corrigimos tendências e desequilíbrios que elas podem acentuar, em particular neste
momento de crise, e de crise séria, como a que temos vivido.
Aplausos do PS.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, é neste quadro que devemos olhar para o emprego, para o trabalho
e para as questões laborais.
Precisamos de construir uma agenda virada não só para o presente, mas também para o futuro das
relações de trabalho, centrada na promoção do trabalho digno, nas suas diferentes dimensões, orientada para
responder às dificuldades e aos desafios com que nos confrontamos hoje.
Precisamos de contruir uma agenda que responda não só às novas questões do trabalho, mas também às
velhas questões, que as novas realidades e mudanças também interpelam, como é o caso da precariedade,