I SÉRIE — NÚMERO 86
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O Sr. Nelson Silva (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A proposta de lei em apreço vem estabelecer requisitos mais exigentes à atividade de certificação energética de edifícios,
tema que, obviamente, acompanhamos. Mas sendo um tema que é tão caro ao PAN, não podemos deixar de
aproveitar a oportunidade para destacar alguns aspetos dentro daquela que é a problemática da eficiência
energética de edifícios em Portugal.
De acordo com o estudo da União Europeia que avalia as trinta estratégias de eficiência energética entregues
pelos países europeus, apenas três estratégias de renovação de edifícios não respondem aos requisitos básicos
— Alemanha, Portugal e Polónia.
A pobreza energética foi bem abordada na maioria das estratégias, sendo reconhecida como uma questão
socioeconómica crescente, com graves consequências em termos de saúde, bem-estar, economia e ambiente.
É mencionado que Portugal é um dos países com maiores níveis de pobreza energética, não tendo sido proposta
qualquer medida, por parte de Portugal, para a combater.
No referido estudo e numa pontuação de 1 a 5, Portugal obteve 3,5 na identificação do parque habitacional,
0 (zero) na identificação de abordagens custo eficazes, 3 em políticas que incentivem renovações de edifícios
custo eficazes, 2,5 em visão de políticas de investimento, 0 (zero) nas expectativas de poupança de energia e
outros benefícios.
Na pontuação global, Portugal fica em penúltimo lugar na Europa, apenas atrás da Polónia. Palmas para o
nosso País…. Um dos muitos rankings em que Portugal se posiciona e que não é, de todo, motivo de orgulho.
Tendo em consideração a importância da eficiência energética na redução das emissões de gases com efeito
de estufa e no combate à pobreza energética, que assola cerca de 20% da população nacional, é absolutamente
prioritário incentivar a eficiência energética de edifícios através de apoios às famílias, em função do seu nível de
rendimentos, nomeadamente por apoios diretos, parcialmente reembolsáveis, e por incentivo fiscal, incentivar a
eficiência energética nas empresas e combater a pobreza energética.
Apresentámos um projeto de resolução em fevereiro, que foi rejeitado pelo PS, que propunha, precisamente,
que o Governo criasse um mecanismo financeiro de apoio à eficiência energética de edifícios e de combate à
pobreza energética, no qual as empresas e as famílias saíam beneficiadas a nível de consultoria energética
para melhorar a sua eficiência. É incompreensível que, para este Governo, os 20% de pessoas em Portugal que
têm de escolher entre passar fome ou passar frio continuem a não ser uma prioridade. Este Governo prefere
continuar a dar 500 milhões de euros do Orçamento do Estado em subsídios para a utilização de petróleo à EDP
(Energias de Portugal) e afins do que pegar nesse dinheiro e canalizá-lo para os cerca de dois milhões de
pessoas em Portugal que não conseguem pagar o aquecimento e o arrefecimento das suas casas, muitas delas
acabando por morrer de frio. E isto, Sr.as e Srs. Deputados, diz muito sobre as pessoas que governam o nosso
País.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Duarte Alves, do PCP.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Secretários de Estado: O Governo apresentou, a 21 de maio, esta proposta de lei, que vem alterar os requisitos de acesso à atividade dos técnicos
do Sistema de Certificação Energética dos Edifícios.
Percebemos já, durante esta tarde, a pressa do Governo em ver aprovadas as transposições das diretivas,
mas convenhamos que não foi dado o tempo e, sobretudo, a documentação necessária a partir dos pareceres
que deveriam acompanhar a proposta para que esta matéria, com esta complexidade, fosse plenamente
analisada pela Assembleia da República antes desta discussão, sobretudo tendo em conta que é uma discussão
que acaba aqui, porque é uma autorização legislativa e não há especialidade, pelo que conviria haver outro tipo
de elementos para a Assembleia da República decidir sobre esta matéria.
Prova disso é que só chegaram à Assembleia da República dois pareceres: um da Ordem dos Engenheiros
Técnicos e outro da Associação Nacional de Peritos Qualificados (ANPQ) do SCE. E logo aqui começamos por
questionar o Governo, porque ambas se queixaram que não foram devidamente ouvidas. A ANPQ diz:
«Solicitamos o direito a ser ouvidos, tendo em conta a nossa atividade como principais agentes no terreno da
aplicação dos requisitos do Sistema de Certificação Energética dos Edifícios, facto que escapou aos
legisladores». É uma crítica desta associação.