22 DE JULHO DE 2021
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Por fim, o papel do Banco de Fomento tem estado muito aquém do que tem sido pedido, levando até o próprio
Governo à criação de polémicas, nomeadamente com a nomeação de Vítor Fernandes para esse Banco, apesar
dos avisos que o Bloco de Esquerda deixou, já no mês de fevereiro deste ano, sobre o seu currículo e os perigos
que isso implicava. Portanto, obviamente, perante a situação colocada, o Governo não tinha outra opção a não
ser renunciar a esta nomeação.
Acresce que não se vê um reforço das medidas de estímulo à economia. Assim sendo, pergunto-lhe Sr.
Ministro, como prevê mitigar o efeito que este aumento de endividamento nas empresas poderá ter no aumento
das falências e, consequentemente, no aumento do desemprego, e se vai ou não o Governo tomar medidas
efetivas que combatam a vaga de despedimentos coletivos a que estamos a assistir e que são muito
preocupantes.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro e Srs. Membros do Governo, Sr. Ministro da Economia, na sociedade portuguesa persistem défices estruturais no plano produtivo,
científico e tecnológico, energético ou demográfico, com problemas acumulados por décadas de política de
direita, promovida por PS, PSD e CDS.
Esses problemas agravaram-se pelos impactos da epidemia e do aproveitamento que dela tem feito o grande
capital para acentuar a exploração, emergindo problemas sociais associados ao desemprego, à pobreza, ao
aumento do preço de bens e serviços, à insuficiência dos apoios sociais, às dificuldades e mesmo falência de
milhares de micro, pequenas e médias empresas (MPME), às limitações diversas que perduram sobre a
realização de inúmeras atividades económicas, sociais, culturais e desportivas.
A resposta à pandemia no plano económico tem sido marcada por benesses para as grandes empresas —
principais beneficiárias de medidas como o layoff —, ao mesmo tempo que fica para trás o apoio às MPME, que
são a base do tecido empresarial português, são as que criam mais emprego e maior volume de negócios.
Basta ver a diferença, em percentagem do PIB, entre as medidas de apoio à economia em Portugal e noutros
países da Europa e, dentro deste, as questões do apoio que foi dado às grandes empresas e às micro e
pequenas empresas. Em vez disso, tivemos moratórias bancárias.
Nas medidas de apoio às empresas, mesmo a esse propósito, mantêm-se as discriminações em função do
CAE (Código de Atividade Económica), de ter ou não trabalhadores, das dívidas a bancos ou mesmo do tipo de
contabilidade, como se os empresários que decidiram recorrer ao regime simplificado estivessem fora da lei.
Estas discriminações violam o artigo 359.º da Lei do Orçamento do Estado para 2021, um Orçamento que
também aprovou a dispensa do pagamento por conta, que tem de ser aplicado sem mais subterfúgios.
Mais uma vez afirmamos: não são os aumentos dos salários que prejudicam as contas das empresas, pelo
contrário, eles são uma condição para o crescimento da procura interna. E pode perguntar aos empresários do
comércio, turismo e restauração qual foi e é a importância da procura interna para a economia enfrentar a crise
pandémica.
As medidas que são anunciadas, mas que não chegam ao terreno, os apoios que chegam com meses de
atraso, o apoio aos sócios gerentes que é bloqueado, os custos com a energia, com as portagens, com as
rendas, com os créditos, a concorrência desleal das multinacionais, é isso que tem trazido mais desespero às
pequenas empresas que procuram sobreviver a esta crise.
Não estamos a falar de opções do plano para os anos que hão de vir. Falamos das decisões efetivas, para
cumprir agora. O Orçamento que foi aprovado para este ano e tem as condições necessárias para responder
aos problemas.
É preciso passar à prática e dar resposta concreta aos problemas gritantes deste tecido económico, destes
milhares e milhares de micro, pequenos e médios empresários e de trabalhadores. É sobre este quadro de
urgência que o questionamos, Sr. Ministro.
Aplausos do PCP.