17 DE SETEMBRO DE 2021
31
Mas muitos são os casos em que, lamentavelmente, ninguém chega a tempo. Há animais que vivem toda
uma vida de acorrentamento, como se de uma prisão perpétua se tratasse, de indiferença perante o olhar de
todas as pessoas que ali passam e que ninguém vai socorrer.
É preocupante que, em 2021, estejamos ainda a discutir, nesta Assembleia, a questão do acorrentamento
de animais de companhia — em que se incluem também os gatos —, uma realidade anacrónica e altamente
lesiva para os mais básicos princípios de bem-estar animal.
Sabemos, também, que alguns destes casos de natureza mais gravosa revestem já natureza criminal, mas
este é um problema de uma sociedade que carece de ser sensibilizada para o respeito dos animais, de
compreender as suas necessidades, as suas capacidades emotivas e as suas carências. Mas é também um
problema que resulta, em grande medida, de uma falta de consciência cívica de que os animais são seres
sencientes, capazes de sentir emoções e de que, assim, tal como nós, também eles sofrem, evidência que a
ciência tem vindo a demonstrar, mas que bastaria um olhar e compaixão para a ter presente em nós.
Infelizmente, em Portugal, ainda são muitas as denúncias de casos de animais acorrentados à porta de uma
casa, abandonados em varandas, um pouco por todo o País, muitos deles em condições verdadeiramente
degradantes ou sem a mínima dignidade.
Hoje, trouxemos alguns exemplos a este Parlamento, mas são milhares, milhares de animais, por todo o
País, Sr.as e Srs. Deputados, que vivem nestas condições. E tivemos até o cuidado de trazer imagens que não
firam a sensibilidade de quem nos acompanha, porque, infelizmente, muitos destes animais acabam expostos,
dias, meses, anos a fio, às intempéries, ao calor, ao frio, à chuva, o que põe em causa não só o seu conforto, a
sua existência digna e o seu bem-estar, como também, muitas vezes, a sua sobrevivência às condições em que
estão alojados.
Esta situação provoca também conflitualidade entre a vizinhança, seja pelo ruído gerado, pela insalubridade
ou, até mesmo, pela consternação e compaixão de quem não consegue viver paredes meias com tamanho
sofrimento animal.
Além disso, também não podemos ignorar o risco de inundações e de incêndios, que são particularmente
fatais para os animais acorrentados. E o episódio do incêndio nas instalações de Santo Tirso, um caso bem
presente na nossa memória, onde viviam animais que não tiveram sequer uma hipótese de fuga ou de refúgio,
é um claro exemplo disso.
As imagens de animais acorrentados o dia inteiro, fechados em varandas, também não são um problema
menor e não devem continuar a fazer parte da paisagem do nosso País. É, por isso, que, apesar de todos os
avanços que temos alcançado em matéria de proteção animal, existe ainda um Portugal que tem de cumprir um
salto civilizacional, não apenas em zonas rurais — engane-se quem pensa que este é um fenómeno apenas das
zonas rurais —, mas, sim, também nas cidades, para termos, de facto, um País que olha para os animais, para
os seus direitos e que tem consideração por eles, como seres vivos dotados de sensibilidade.
Para isso, precisamos não só de campanhas de sensibilização, algo que o PAN propõe neste projeto, mas
também de criar regulamentação e um plano de desacorrentamento animal. Todas estas iniciativas existem já
noutros países, como na vizinha Espanha, na Alemanha ou em França, e em muitos Estados norte-americanos,
só para dar aqui alguns exemplos.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr.ª Deputada, chamo a atenção para o tempo.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Estou mesmo a concluir, Sr. Presidente. Este projeto que aqui trazemos reflete não só uma melhoria no bem-estar dos animais, mas também um ato
de compaixão que acreditamos que esta Assembleia da República não será capaz de ignorar.
Aplausos do Deputado do PAN Nelson Silva.
Durante a intervenção, foram projetadas imagens, que podem ser vistas no final do DAR.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem, agora, a palavra, para apresentar a sua iniciativa, a Sr.ª Deputada não inscrita Cristina Rodrigues.