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17 DE SETEMBRO DE 2021

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Primeiro, durante a Guerra Civil de Espanha, foi em Barrancos e nas suas gentes que muitos espanhóis,

fugidos da ditadura de Franco, encontraram o refúgio e o acolhimento para fugirem à morte certa. O povo de

Barrancos soube defender os seus vizinhos.

Num outro momento, em que Portugal estava sujeito à maior ditadura, a de Salazar, as rotas do contrabando

encontraram em Barrancos uma solução para matar a fome de muitos portugueses, de muitos alentejanos.

Por isso Barrancos tem este património, o barranquenho, uma fala mista do português, na variante

alentejana, e do espanhol, na variante andaluza e estremenha. Daqui resulta este dialeto, esta língua, pela

contínua convivência com as vizinhas populações espanholas, nomeadamente a de Encinasola.

Mas também não podemos deixar de salientar o contributo do município de Barrancos para que a língua

barranquenha continue viva e tenha força. Para isso, contribuiu a intervenção decisiva do município de

Barrancos, que, em 2008, aprovou e classificou o barranquenho como património cultural imaterial municipal; e,

já no verão de 2017, fomentou o estudo do barranquenho para a classificação nacional e o ensino do

barranquenho na escola local.

Reconhecemos as características desta língua, mas também precisamos de reconhecer as dificuldades por

que Barrancos passa, além de falar só do barranquenho. Este é um povo que, tal como outros povos, o PCP

não deixa de defender por estar distante. Barrancos está distante fisicamente, mas, económica e socialmente,

está muito mais distante pela postura dos sucessivos Governos que o mantêm no esquecimento e abandono. É

por isso que, a cada dia que passa, Barrancos fica mais distante.

Em Barrancos, podemos identificar com facilidade aqueles que resistem, que constroem uma identidade,

uma cultura e uma língua, que constroem os seus hábitos e as suas tradições e os mantêm vivos, mas também

podemos encontrar em Barrancos aqueles que lá vão usufruir e beneficiar de uma cultura ímpar. E também

encontramos aqueles que só lá vão nas festas e na feira. Queremos que esses continuem a ir lá, convidamo-los

a ir lá, mas também queremos que defendam o barranquenho, Barrancos e este território.

Pelos problemas de Barrancos e do seu desenvolvimento económico e social, não podemos continuar a

deixá-lo à sua sorte, na saúde, na educação, nas acessibilidades, nos transportes. Inclusivamente, durante a

COVID-19, a fronteira de Barrancos foi fechada e não lhe foi dada a mesma oportunidade que foi dada às outras

fronteiras. Por isso, é importante defender Barrancos e defender a sua língua é defender todo aquele território

e aquele concelho.

Aplausos do PCP e do PEV.

O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Ana Rita Bessa, do CDS-PP.

A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Começo por saudar-vos, em particular o Sr. Deputado João Dias por esta intervenção tão apaixonada. Claramente, um homem da sua terra. Extravasou

ligeiramente o tema, mas, nos tempos que vivemos, é compreensível que tenha essa paixão.

Protestos do Deputado do PCP João Dias.

Sr. Deputado, em matérias diversas e em matéria de preservação de tradições, pela nossa natureza e

posicionamento político, obviamente que acompanharemos estes dois projetos. Não por fazermos uma defesa

vazia das tradições, mas, precisamente — e neste caso assim é! —, porque existe uma fundamentação em

trabalho académico para os acompanharmos. De resto, ambos os projetos dão nota do trabalho da Prof. María

Victoria Navas, da Universidade Complutense, que aponta para a importância da classificação do barranquenho

como mais do que um dialeto ou do que uma língua raiana, mas verdadeiramente como uma língua de contacto

minoritária.

Segundo aquilo que é possível consultar, tanto nos projetos como na própria câmara municipal e na

Universidade de Évora, a Universidade está, precisamente, a trabalhar para que o barranquenho venha a ser

reconhecido como uma língua cooficial minoritária, documentando a sua memória histórica e a sua experiência

e vivificação na comunidade e elaborando, até, uma convenção ortográfica e uma gramática, exatamente porque