17 DE SETEMBRO DE 2021
9
dialeto tem merecido ao longo do tempo a atenção de vários investigadores, o que já resultou num importante
acervo de obras científicas tanto ao nível da sua caracterização como da sua evolução.
Deste universo destaca-se a obra de José Leite de Vasconcelos ou os trabalhos de María Victoria Navas, da
Universidade Complutense de Madrid, e mais recentemente também os trabalhos de investigação de Joseph
Clements, Patrícia Amaral e Ana Luís.
Apesar das diferentes leituras que a classificação do barranquenho possa merecer por parte da comunidade
científica, a verdade é que existe um denominador comum entre todos os investigadores, que é a constatação
de uma manifestação cultural, imaterial e identitária que exige ser reconhecida, protegida e valorizada.
Para terminar, gostaria de deixar uma nota de reconhecimento ao trabalho e aos esforços que o município
de Barrancos tem vindo a desenvolver ao longo dos anos e que, certamente, muito contribuiu para que o
barranquenho tenha resistido à globalização e chegasse aos nossos dias.
Por nós, o barranquenho será valorizado, protegido e, por isso, iremos votar a favor das duas iniciativas
legislativas que estão em discussão.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os projetos de lei agora em debate têm dois méritos que reconhecemos.
O primeiro mérito é o de identificarem o nosso País e o nosso povo com a diversidade que o faz forte. Aquela
ideia que alguns têm de uma pureza, de uma existência quase linear de um povo é desmontada pela realidade.
Somos plurais, somos multiculturais e é isso que, ao longo dos anos, ao longo dos séculos, nos tem feito fortes.
Creio que esse mérito é reconhecível nas duas iniciativas que estão agora em debate.
O segundo mérito que deve ser reconhecido é o da tentativa de proteger o barranquenho, que tem um legado
histórico e uma pretensão no povo de Barrancos, na sua manutenção e na sua promoção. E, como tudo o que
é memória e tudo o que é identidade deve ser valorizado, estes projetos de lei têm o mérito de dar esse passo
e de o tornarem força de uma lei que obriga o Governo a agir sobre esta matéria.
O Bloco de Esquerda espera que estes dois méritos não venham acompanhados de um enorme demérito,
que, possivelmente, pode assombrar estas iniciativas. É que tantas vezes, infelizmente tantas vezes, a memória
e a identidade que vem do passado e as promessas para o futuro servem apenas e só para que as pessoas se
esqueçam do presente. E, não por acaso, este tipo de iniciativas chega sempre em vésperas de uma qualquer
eleição, neste caso nas vésperas das eleições autárquicas.
A Sr.ª Fabíola Cardoso (BE): — Muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Esperamos que estes projetos de lei não sejam promessas para Barrancos de modo a que o povo se esqueça das dificuldades das acessibilidades, da fragilidade das suas
condições de vida, do acesso aos serviços públicos. Esperamos que, na prática, não esteja agora o
barranquenho a ser jogado meramente e apenas para ganhos nas eleições autárquicas.
Vamos dar o nosso voto de dúvida, o voto valorizado pelos dois méritos que reconheci inicialmente, porque
acreditamos que o barranquenho e o povo de Barrancos merecem essa nossa confiança.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra, para encerrar o debate, o Sr. Deputado Pedro do Carmo, do PS. Dispõe de 2 minutos.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Com a aprovação deste projeto de lei que defende e promove o barranquenho, sublinhamos não ser possível reescrever a História no que diz
respeito ao abandono e isolamento daquele território pelo Estado português ao longo de décadas, mas
começamos a escrever o futuro.