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I SÉRIE — NÚMERO 2

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Barrancos possui, de facto, uma identidade única que se reflete no dialeto barranquenho, mas também

noutras manifestações antigas que merecem ser valorizadas, devendo ser deixadas para trás as que não

acompanharam o devir civilizacional, nomeadamente a anacrónica tradição de matar animais numa praça

pública.

É importante alterar esta imagem que se criou de Barrancos, valorizando outros aspetos da sua identidade

singular, como o património cultural, histórico e ambiental.

Nesse sentido, o PAN reconhece o dialeto barranquenho como um valor cultural único e acompanha estas

iniciativas no sentido de promover a sua preservação e de evitar o seu desaparecimento.

Mas lembramos aqui algo que é fundamental para conservar este dialeto e para conservar o modo de vida

comunitário: as pessoas. E as pessoas não se têm fixado no interior e Barrancos, infelizmente, também é um

desses exemplos.

O último Censos indica que Barrancos perdeu quase 22% da sua população nos últimos 10 anos, ou seja,

Barrancos passou a ser o município português que mais população perdeu desde 2011. Barrancos perde

população desde 1950, sendo evidente o envelhecimento crescente da população, tal como acontece na

esmagadora maioria do nosso País.

Não há barranquenho que resista, enquanto o concelho continuar a perder população desta forma. Não há

interior que resista, enquanto se continuar a privar as populações do acesso a serviços públicos absolutamente

essenciais, como o acesso ao emprego, às acessibilidades, aos transportes públicos, ao investimento na rede

elétrica para que a população não seja deixada às escuras durante longas horas, várias vezes ao dia, como

ainda acontece em Barrancos e em muitas regiões de Portugal por falta de investimento na rede.

Por isso, de nada nos serve procurar preservar o dialeto barranquenho se não conseguirmos fixar as

pessoas.

O PAN acompanhará, evidentemente, estas duas iniciativas, mas alertamos para a necessidade de haver

uma evolução não só civilizacional, como também de diminuição das assimetrias regionais, o que ainda está por

cumprir.

Aplausos do PAN.

O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos diante de duas iniciativas legislativas, uma do PS e outra do PCP, ambas com o propósito de estabelecer no plano legal, por um lado, o

reconhecimento do barranquenho, e, por outro, a adoção de políticas públicas com vista à proteção, à promoção

e à valorização do barranquenho.

Em jeito de antecipação, gostaria de dizer que Os Verdes acompanham com simpatia os propósitos e os

objetivos dos projetos agora em discussão, desde logo porque valorizamos muito a nossa diversidade linguística

e, portanto, como fizemos no passado, acompanharemos, em tese, todas as iniciativas que pretendam

estabelecer o reconhecimento do nosso património linguístico, um património que importa não só reconhecer

como também preservar, valorizar e divulgar e que, aliás, representa um elemento identitário do património

imaterial das populações.

Como muito bem referiu o diretor-geral da UNESCO no Ano Internacional das Línguas, em 2008, «a

diversidade linguística é uma das principais garantias da diversidade cultural (…)», «contribui para o

desenvolvimento sustentável, reforça o diálogo, a coesão social e a paz» e «com a língua os povos constroem,

compreendem e expressam as suas emoções, intenções, valores, noções e práticas».

E agora dizemos nós: se chegámos ao século XXI e em Barrancos se fala barranquenho, cabe-nos assegurar

a sua sobrevivência para o futuro, o que exige, naturalmente, o seu reconhecimento no plano legal, mas também

a adoção de medidas capazes de o preservar e valorizar.

Diz quem sabe que a sua origem está, muito provavelmente, ligada à permanência, que vem da Idade Média,

de pessoas provenientes de Castela, em torno do Castelo de Noudar.

Mas tão ou mais importante que a sua origem é constatar que chegámos aos dias de hoje, num mundo cada

vez mais global, e o barranquenho continua a ser falado em Barrancos. Por outro lado, a singularidade deste