I SÉRIE — NÚMERO 3
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O que fez o Grupo Parlamentar do PS no anterior Governo, na anterior Legislatura, é o que faz hoje o
Governo e no que se empenha esta bancada: numa verdadeira revolução na política de habitação, com um
investimento público sem precedente, em que o Estado assume as suas responsabilidades, em que tomamos
a iniciativa também em matéria de proteção e alterações ao arrendamento urbano.
O Sr. Pedro Morais Soares (CDS-PP): — Zero!
A Sr.ª Maria Begonha (PS): — E não precisamos de olhar muito para trás, porque foram as alterações
legislativas de 2019, a que acresce o trabalho que este Parlamento desenvolve desde 2015, que introduziram
as mais importantes medidas de mitigação e correção do desequilíbrio entre arrendatários e senhorios para
reforçar a estabilidade do arrendamento urbano e proteger as situações de maior fragilidade. Por isso, este
debate não pode ofuscar — apesar da oposição da direita a esse caminho — que levámos a cabo, muito
recentemente, alterações legislativas que levaram mais longe, em décadas, a proteção dos arrendatários, a
proteção do direito à segurança na habitação e a devolução da expectativa de alguma estabilidade de todas as
gerações, através do combate à informalidade do mercado de arrendamento.
Destaco apenas algumas, como o Serviço de Injunção em Matéria de Arrendamento, o SIMA, que já foi
regulamentado para que o arrendatário possa pôr fim a um conjunto de situações de abuso; a proibição de
assédio no arrendamento; a possibilidade de o arrendatário provar a existência do seu arrendamento mesmo
sem contrato; a redução da indemnização por mora no pagamento da renda, de 50% para 20%, assim como
alterações ao regime transitório para o NRAU (Novo Regime do Arrendamento Urbano).
E foi mesmo o Partido Socialista, no Orçamento de 2020 — em reconhecimento de um problema de que
também tratam hoje, aqui, estes projetos, aliás, legitimamente —, o autor da proposta de alteração à lei das
rendas para prorrogar por mais dois anos o período transitório nos contratos anteriores a 1990 para os
inquilinos com carências financeiras.
Estivemos e estamos bem cientes do impacto que a atualização das rendas, nos termos do NRAU,
pressupõe para um conjunto muito alargado de famílias no mercado habitacional, como ele ainda é hoje, e não
deixámos de atuar, como não deixaremos de o fazer no futuro, em que será encontrada uma solução para
proteger quem mais precisa e não por manigância avarenta.
Aliás, numa situação de extrema crise e vulnerabilidade como esta pandemia provocou, a habitação esteve
no centro das respostas dos apoios extraordinários, como tem estado no centro das prioridades políticas e de
investimento do País.
No que respeita ao arrendamento habitacional, ainda no último mês de julho foram prorrogados os
empréstimos, já concedidos, até três meses após o término do regime excecional em vigor. Mas, tal como
sempre assumimos, não entendemos que os regimes que pela sua própria natureza são excecionais e que
foram absolutamente necessários durante as fases mais duras da pandemia devam eternizar-se e também aí
nos separamos destes projetos.
Sr.as e Srs. Deputados, o PS está absolutamente ciente de que apesar dos enormes avanços que se fez
em matéria de proteção dos arrendatários e no combate à precariedade e abusos, a sua existência é ainda
muito recente. Não foi possível ainda consolidar muitos dos progressos que no campo formal alcançámos,
com uma tradução concreta na vida concreta das pessoas, como desejaríamos.
É por isso que entendemos que, em vez da mudança absolutamente estrutural que defende, por exemplo,
o projeto do PCP, é necessário deixar que se consolidem as alterações profundas levadas a cabo, mas
prosseguir com determinação o combate à raiz do problema: continuar a reforçar a fiscalização do
cumprimento da legalidade do arrendamento e o combate à informalidade do mercado habitacional, que
impede que muitos dos avanços existentes tenham um impacto real nas condições de acesso à habitação;
continuar, com determinação, a prosseguir o caminho percorrido — que é demagógico dizer que seria feito de
um dia para o outro —, um caminho que tem levado os portugueses a saber que existe um antes e um depois
de uma maioria de esquerda, um antes e um depois de uma governação socialista, no cumprimento dos seus
direitos e no desígnio de o Estado chegar aonde ainda não tinha chegado, cumprir o desígnio de existir
habitação com dignidade e acessível a todas e a todos.
Aplausos do PS.