18 DE SETEMBRO DE 2021
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«Faleceu no dia 25 de julho de 2021, aos 84 anos, Otelo Saraiva de Carvalho, Capitão de Abril e um dos
principais obreiros da Revolução de 1974, da qual foi o comandante operacional e o reconhecido estratega.
Foi um dos libertadores de Portugal, que resgatou, naquele dia, o País da longa noite da ditadura, «O dia
inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio, / E livres habitamos a substância do tempo»,
como tão bem descreveu Sophia de Mello Breyner Andresen.
Otelo Saraiva de Carvalho nasceu em 1936, em Maputo, então Lourenço Marques, Moçambique. Foi
alferes e capitão em Angola, entre 1961 e 1963 e entre 1965 e 1967, respetivamente, e, ainda, capitão na
Guiné, entre 1970 e 1973.
Participou ativamente no movimento de contestação ao Decreto-Lei n.º 353/73, que visava responder à
escassez de capitães dos quadros permanentes e que veio a funcionar como um verdadeiro catalisador do
Movimento dos Capitães e do Movimento das Forças Armadas (MFA).
Otelo — como ficou conhecido pelos portugueses — foi responsável pelo setor operacional da Comissão
Coordenadora do MFA, desenhando as operações militares que acabaram com o cerco ao Largo do Carmo,
em Lisboa. Neste papel, foi absolutamente decisivo no desfecho da operação, no comando dos heroicos
capitães de Abril, sendo, a par do sempre saudoso Salgueiro Maia, no imaginário coletivo português, um dos
rostos mais facilmente associáveis ao dia libertador do País.
Portugal e os portugueses devem a Otelo Saraiva de Carvalho, e aos seus camaradas do Movimento dos
Capitães, a conquista da Liberdade. Como afirmou o antigo Presidente da República General Ramalho Eanes,
«a ele a Pátria deve a liberdade e a democracia. E esta é uma dívida que nada, nem ninguém, tem o direito de
recusar. (…) Há homens que, num momento histórico especial, se ultrapassam, ganhando dimensão nacional
indiscutível, porque souberam perceber e explorar uma oportunidade histórica única e sentir os anseios mais
profundos do seu povo».
Não desconhecendo os vários momentos da vida de Otelo que o tornaram uma personagem contraditória,
divisiva e não consensual, na altura do seu desaparecimento cumpre, sobretudo, prestar homenagem ao herói
de Abril, ao corajoso capitão operacional do movimento militar de 25 de Abril de 1974, e que a Assembleia da
República, através do presente voto, recorda, manifestando a gratidão do povo português — que aqui está
representado — pelo decisivo papel que assumiu naquele que será sempre celebrado como o inolvidável Dia
da Liberdade.
Assim, em nome do apego aos valores da liberdade e da democracia, a Assembleia da República, reunida
em sessão plenária, manifesta o seu profundo pesar pela morte de Otelo Saraiva de Carvalho, transmitindo à
sua família, aos seus amigos e camaradas de armas, assim como à Associação 25 de Abril, de que era
membro, as mais sentidas condolências.»
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, vamos votar a parte deliberativa do projeto de
voto que acabou de ser lido.
Começo por perguntar quem vota contra.
Pausa.
Votam contra o CDS-PP, o CH, o IL e um conjunto de Sr.as Deputadas e Srs. Deputados do PSD que,
suponho, ficam devidamente registados, a não ser que a bancada do Grupo Parlamentar do PSD queira fazer
o favor de nos ajudar na identificação dos Srs. Deputados, se entender que isso é necessário.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, permite-me o uso da palavra?
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Faça favor, Sr. Deputado Adão Silva.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, sugiro a V. Ex.ª que os Deputados do PSD expressem, de viva
voz, o seu sentido de voto.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Muito bem, Sr. Deputado, assim será.