I SÉRIE — NÚMERO 15
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Pela nossa parte, não temos qualquer dúvida de que lado estamos quando se trata de bem-estar animal.
Não temos dúvidas sobre a necessidade de uma maior fiscalização, designadamente uma fiscalização
permanente e assumida pela autoridade do Estado e não pelos matadouros, para assegurar quer a saúde
pública, quer todas as regras e procedimentos de maneio que garantam mínimos aceitáveis de bem-estar
animal.
Por isso, defendemos que, por princípio, a produção local e a dinamização das atividades primárias da
agricultura, pecuária e pescas devem desenvolver-se tendo por base alimentar o mercado nacional e que a
produção animal para consumo humano deve respeitar as regras de bem-estar animal e privilegiar a produção
extensiva por pastoreio, o que reduz em 50% a emissão de gases com efeito de estufa e potencia o bem-estar
animal, exatamente como nos batemos contra o encerramento indiscriminado de matadouros que obrigam a
que os animais façam agora centenas de quilómetros para serem abatidos.
Mas também consideramos que há linhas que, no que diz respeito à privacidade de cada um e,
particularmente, aos direitos dos trabalhadores, não se podem ultrapassar, nem se podem abrir agora portas,
nem sequer janelas, por onde entrará, primeiro, a câmara de vigilância e, depois, não se sabe o que entrará.
Aliás, o bom consenso tem ido na direção de que a existência de videovigilância nas instalações de trabalho,
já debatida, viola os direitos dos trabalhadores. A proposta que nos é hoje apresentada para discussão não é
suficiente para acalmar estas críticas. Deixar à mercê das chefias ou dos empresários imagens que podem
servir de chantagem, de ameaça, de pressão, não é aceitável.
Chegados aqui, insistimos na necessidade de dotar as estruturas fiscalizadoras do Estado,
designadamente a DGAV dos meios humanos para uma presença permanente em todo o processo do abate,
desde a entrada no matadouro dos animais até à expedição das carcaças. Essa é, para Os Verdes, a melhor
garantia de se assegurar as regras de bem-estar animal. Não apenas os veterinários aí destacados podem
fazer sugestões de procedimentos menos agressivos, ajustando as práticas dos trabalhadores, como o podem
fazer em tempo real.
Veja-se que as imagens de videovigilância, a não ser que tenham alguém a visualizá-las posteriormente,
não evitarão nenhuma ação que provoque sofrimento injustificado nos animais. Já a presença de técnicos
especializados, empossados da autoridade do Estado, com formação para a sensibilização e esclarecimento,
poderão fazê-lo no imediato.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do Grupo Parlamentar do CDS-PP.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Discutimos aqui vários projetos que têm a ver com o bem-estar animal ou, melhor, com uma determinada visão do bem-estar animal
quer em explorações pecuárias, quer em matadouros.
Prevenir a crueldade é uma finalidade com a qual concordamos; contudo, alguns pressupostos, para não
dizer praticamente todos, que estão presentes nestes projetos não parecem os mais corretos.
Primeiro, e mais importante, aquele que foi falado: a reportagem da RTP E se nós falássemos. Por
iniciativa, sobretudo, do PAN, mas também de outros partidos, acho que já discutimos muitas vezes este tema
e eu gostava de, hoje, em vez de dar a minha opinião, ler a opinião de quem sabe, de quem trabalha com
animais todos os dias.
Gostava, pois, de ler a opinião da Ordem dos Médicos Veterinários sobre esta reportagem E se nós
falássemos, e cito: «É, por isso, com enorme surpresa e com algum constrangimento que assistimos à forma
leviana, tendenciosa, incoerente e inculta, com que o assunto foi apresentado no programa Linha da Frente
transmitido pela RTP1 no passado dia 25 de fevereiro.
Reconhecemos que é um tema complexo e controverso. Que não há uma só visão e muito menos a visão
acertada. No entanto, e talvez por isso, o bem-estar animal merece ser discutido com seriedade, com
transparência, com inteligência e, principalmente, com o imprescindível suporte da ciência. Nada disso
aconteceu no dito programa.»
Mais à frente, continuam: «Além do desprezo pela evidência científica, atacou-se, sem sequer dar
oportunidade de resposta, um dos setores, o da produção animal, que mais contribui para a economia e para o
bem-estar dos portugueses. Não só produtores, como consumidores. Não se arriscou falar em alternativas à