I SÉRIE — NÚMERO 17
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Este foi o modelo que, nos últimos anos, o Governo do Partido Socialista foi desenvolvendo, com o apoio
dos partidos à sua esquerda. Foi um modelo que conquistou a confiança dos cidadãos e dos investidores
estrangeiros, que permitiu a redução do risco de pobreza, o combate às desigualdades e a subida do rendimento
das famílias, que viabilizou uma redução histórica do desemprego e o aumento inédito das exportações e do
investimento, e que permitiu o equilíbrio das contas públicas.
Tenhamos claro isto: foi esta solução parlamentar que deu suporte político a esta reorientação das políticas
económicas, passando da desvalorização do trabalho para a valorização do conhecimento. Foi ela que permitiu
o reforço do Estado social e a redução das desigualdades.
Muito está ainda por fazer. Bolsas de pobreza persistem na nossa sociedade. Grande parte dos nossos
jovens só encontra emprego de modo precário e com salários baixos. Muitos aceitam ocupações para as quais
estão sobrequalificados. Os serviços públicos carecem de recursos adicionais e de maior qualidade de gestão.
São, por isso, grandes as tarefas que ainda nos convocam e seria maior o ritmo que gostaríamos de imprimir
à sua concretização. Vários fatores, porém, obrigam-nos a ter especial sentido de responsabilidade, desde logo
a nossa dívida excessiva.
O nosso caminho é longo e qualquer «passo maior do que a perna» pode fazer-nos perder a credibilidade
que conquistámos nos últimos anos, podendo conduzir a um aumento brusco e descontrolado dos juros da
dívida pública e privada, ou a uma retração do investimento de que tanto carecemos.
«Mas isso não chega», dizem alguns, e preferem rejeitar o Orçamento, sob o pretexto de este não ir
suficientemente longe, nem com maior rapidez. Preferem rejeitá-lo, na verdade, por motivos que não têm que
ver com a proposta orçamental.
Na história da nossa democracia, nunca os partidos à esquerda do PS tiveram tanta capacidade para marcar
a agenda da governação e nunca um Orçamento do Estado foi tão moldado pela intervenção desses partidos.
Aplausos do PS.
Pois é este mesmo Orçamento que esses partidos se preparam para reprovar e, com isso, determinar a
dissolução do Parlamento.
Note-se que nunca um Orçamento foi reprovado. Essa reprovação, neste contexto, irá gerar uma inevitável
crise política, num momento em que, apesar da COVID-19, a economia está em recuperação, o emprego em
crescimento, as finanças públicas estão controladas, a dívida pública tem condições para continuar a reduzir-se
e os recursos europeus de dimensão inédita podem ser colocados ao serviço do desenvolvimento do País.
Apetece dizer: que desperdício!
Aplausos do PS.
Daqui a uns anos, teremos de explicar aos vindouros estes tempos estranhos e os caminhos que aqui nos
trouxeram. Talvez o tempo e a distância iluminem a nossa compreensão.
Por agora, resta constatar o ocorrido e mantermo-nos determinados no exercício das nossas funções,
sabendo que esse é o nosso dever, ao serviço de Portugal.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Inscreveram-se seis Deputados para pedidos de esclarecimento ao Sr. Ministro, que informou a Mesa de que responderá a todos em conjunto.
Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Isabel Pires, do BE.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr. Ministro da Economia, um dos maiores problemas da economia, neste momento, chama-se «custos com a energia», em particular, com os
combustíveis.
De facto, num cenário de retoma económica, não pode, parece-nos, este problema ficar apenas com meias
respostas.