18 DE NOVEMBRO DE 2021
17
Mas mais: a Constituição também refere expressamente que todos os portugueses têm direito, para si e para
a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto, que preserve a
intimidade pessoal e a privacidade familiar, como, de resto, já foi hoje referido.
Se essa é uma responsabilidade do Estado em circunstâncias normais, mais relevância assume em períodos
como aqueles que hoje, infelizmente, ainda vivemos.
De facto, a pandemia continua a provocar efeitos a todos os níveis e em todas as dimensões das nossas
vidas. Sem surpresas, veio provocar um conjunto de problemas às micro, pequenas e médias empresas do
nosso País, com toda a importância que essas empresas representam para a nossa economia também a nível
de postos de trabalho, mas foi igualmente sem surpresas que a pandemia veio provocar um conjunto de graves
problemas a milhares e milhares de famílias também em termos de habitação.
A verdade é que um universo muito alargado de pessoas ficou sem trabalho e outras tantas viram os seus
rendimentos substancialmente reduzidos, sobretudo as pessoas que, contra a sua vontade mas por exigências
ou imperativos do interesse coletivo, ficaram em layoff e, portanto, com perdas acentuadas nos seus
rendimentos e orçamentos familiares.
Nesta circunstância, milhares e milhares de famílias ficaram objetivamente sem possibilidade de dar resposta
aos compromissos que assumiram também a nível da habitação, porque o magro orçamento familiar não lhes
permite fazer face ao conjunto de despesas para manter aquilo que é essencial à vida.
Interessa também recordar que o problema não foi criado pela pandemia. O problema vem de trás e muito
de trás. O que a pandemia veio fazer foi ampliar a dimensão do problema, porque o problema já existia e há
muito, tendo conhecido, aliás, um impulso substancial com a Lei n.º 31/2012, uma lei do Governo PSD/CDS-PP,
portanto, do Governo de Passos Coelho e de Paulo Portas, que, aliás, ficaria para a história — e com toda a
propriedade, diga-se de passagem — como a «lei dos despejos».
Na verdade, o tal Novo Regime do Arrendamento Urbano veio introduzir vários elementos que, como se
previa, potenciaram, e continuam a potenciar, um conjunto de injustiças e arbitrariedades a nível do
arrendamento, injustiças essas que é imperioso corrigir.
É necessário corrigi-las porque, apesar das alterações pontuais que foram promovidas nos últimos anos,
designadamente na anterior Legislatura, que, de certa forma, vieram minimizar os efeitos mais negativos da tal
«lei dos despejos», ainda assim, permanecem, nesse regime, elementos de grosseira discricionariedade, como
é o caso do Balcão do Arrendamento.
Portanto, em jeito de conclusão, acompanhamos a proposta que está em discussão. Acompanhamo-la não
só porque também consideramos absolutamente imperioso estabelecer o alargamento do regime extraordinário
de proteção dos arrendatários, através da prorrogação do prazo de vigência da Lei n.º 1-A/2020, como, de resto,
se prevê na proposta que o PCP hoje apresenta para discussão, mas também porque nos parece justo que se
proceda ao alargamento do regime excecional para situações de mora no pagamento da renda devida nos
termos de contratos de arrendamento urbano, seja habitacional, seja não habitacional.
O mesmo se diga relativamente às propostas de alteração que o PCP apresenta na sua iniciativa legislativa
quanto às normas que continuam impiedosamente a potenciar problemas às pessoas e que exigem resposta
imediata, nomeadamente o prazo de transição do contrato, a proteção do arrendatário com idade igual ou
superior a 65 anos ou com deficiência com grau de incapacidade igual ou superior a 60%.
Por fim, mas não menos importante, é necessário colocar de fora do alcance da aplicação do Novo Regime
do Arrendamento Urbano os contratos de arrendamento anteriores à entrada em vigor da Lei n.º 6/2006.
Para terminar, gostaria de dizer que para o Partido Ecologista «Os Verdes» as propostas, ou medidas, hoje
em discussão têm muita importância não só para milhares e milhares de famílias, mas também para muitas
micro e pequenas empresas. São propostas, ou medidas, mais do que justas, que procuram sacudir a ameaça
com que milhares e milhares de famílias se confrontam, face à possibilidade de ficarem sem habitação.
Aplausos de Deputados do PCP.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria Begonha, do PS.