18 DE NOVEMBRO DE 2021
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cinco anos daquelas normas, e tivesse o PS acompanhado as propostas do PCP para revogar a «lei Cristas» e
criar um regime de arrendamento urbano verdadeiramente preocupado com a proteção dos arrendatários, hoje,
não tínhamos de estar preocupados com a data em que a norma-travão vai deixar de produzir efeitos, data a
partir da qual todos os arrendatários titulares de contratos de arrendamento anteriores a 1990 vão ficar sujeitos
à subida especulativa das rendas e eventualmente sujeitos ao despejo por incapacidade de suportar esses
aumentos de rendas.
Sr.as e Srs. Deputados, dos partidos à direita do PS não há argumentos novos. É a ideologia do negócio
contra a ideologia da defesa do direito à habitação. É a ideologia da transformação do Estado no braço armado
dos despejos contra a ideologia da defesa da habitação como um direito e do direito à estabilidade e à proteção
do arrendamento como parte desse direito à habitação que a Constituição consagra.
Nem da parte do PSD, nem do CDS, nem dos seus sucedâneos mais reacionários ouvimos uma palavra que
fosse de preocupação com os arrendatários.
Mesmo quando estávamos a falar de arrendamento urbano e não propriamente de arrendamento dos lugares
das listas do Chega, que depois rapidamente dão em despejo de quem é eleito, quando estávamos a falar de
arrendamento urbano e do direito à habitação, não houve um elemento de preocupação, nem sequer quando
estávamos a tratar do rendimento das micro, pequenas e médias empresas. Sim, Srs. Deputados do PSD,
quando estamos a tratar de arrendamento e das propostas que o PCP hoje trouxe à discussão, estamos também
a tratar da proteção dos micro, pequenos e médios empresários, que têm de suportar rendas exorbitantes e que
estão sujeitos à subida especulativa das rendas, situação com a qual os senhores não se preocupam.
Também aqui temos, mais uma vez, a ideologia do grande negócio contra os micro, pequenos e médios
empresários, quem o PSD acaba por nunca defender, como, aliás, já tinham feito no passado, quando discutimos
nesta Assembleia da República as propostas do PCP para a proteção dessas micro, pequenas e médias
empresas que são arrendatárias.
Para terminar, Sr.as e Srs. Deputados, queria concluir a minha intervenção dizendo o seguinte: neste debate,
não se compreende o que quer, afinal, o PS. O PS diz que na proposta de Orçamento havia iniciativas
precisamente para estender a duração dessa norma-travão. Hoje, perante a iniciativa do PCP, diz que essas
iniciativas não servem. Mais, o PS diz: «Estamos preocupados com a situação do arrendamento e, em função
da avaliação dos Censos, lá mais à frente, poderemos resolver o problema». Hoje, perante propostas que
podiam evitar que esses problemas viessem a concretizar-se, o PS diz que elas não são necessárias.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado João Oliveira, chamo a sua atenção para o tempo.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Concluo, Sr. Presidente. A aprovação das propostas do PCP aponta aos arrendatários a possibilidade de terem os seus problemas
resolvidos. Parece que o PS não quer resolver os problemas para poder ter propostas no seu programa eleitoral.
Deixamos este último desafio: pensem se aquilo que deve pesar mais é a solução dos problemas dos
inquilinos ou terem um programa eleitoral para disputar as eleições no próximo dia 30 de janeiro. É que a pior
coisa que podia acontecer, depois de não terem querido Orçamento para poderem ter eleições, era agora, ainda
por cima, não quererem resolver os problemas para poderem ter propostas no programa eleitoral. Péssimo
serviço aos inquilinos, péssimo serviço para quem diz defender o direito à habitação.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado João Oliveira, queira terminar.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Fica esse desafio. Votem as propostas do PCP, aprovem-nas na generalidade, aprovem-nas na votação final global, e cá estaremos, na próxima Legislatura, para resolver todos os outros
problemas que continuarão por resolver, porque também esses o PS, até hoje, não quis resolver.
Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado, que saudades que eu tinha de chamar a sua atenção para o tempo.