I SÉRIE — NÚMERO 24
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Falamos de um largo conjunto de benefícios fiscais a que o Governo e o PS queriam acrescentar uma
reedição do crédito fiscal ao investimento, previsto no Orçamento Suplementar para 2020, que contou com o
voto contra do PCP e que só serviu para dar borlas fiscais às grandes empresas.
Falamos de situações como o escândalo da venda das concessões sobre as barragens da Terra de Miranda,
um negócio entre a EDP (Energias de Portugal) e a ENGIE, de 2200 milhões de euros, que, com a complacência
e apoio do Governo, continua a não pagar o imposto devido, além de contribuir para a segmentação da rede
fundamental electroprodutora.
Falamos mesmo em relação à contribuição extraordinária sobre a banca, criada com o propósito de garantir
um contributo deste setor, no momento em que todos os portugueses enfrentavam enormes sacrifícios, e que,
hoje, serve para dar à banca um privilégio que mais nenhum outro setor tem: um imposto diretamente
consignado à resolução do próprio setor.
Falamos, ainda, das taxas liberatórias, da não aplicação do englobamento obrigatório a partir de determinado
nível de rendimento, o que faz com que rendimentos do trabalho sejam tributados a taxas médias muito
superiores às dos rendimentos de capital, problemas a que o Governo não quis dar uma solução que fosse para
além do simbólico.
Este é o cenário do regime fiscal de privilégio de que os grandes grupos económicos continuam a beneficiar,
ao passo que os trabalhadores, os pensionistas e as pequenas empresas continuam a suportar elevados
encargos fiscais, não só no IRS (imposto sobre o rendimento das pessoas singulares), agravado para os
rendimentos mais baixos, por via da rejeição, ao longo dos anos, das propostas do PCP para aumentar o mínimo
de existência e a dedução específica, mas também no IVA (imposto sobre o valor acrescentado), em que bens
essenciais como a energia elétrica e o gás continuam a ser taxados a 23%, em vez de 6%, ou ainda nos
combustíveis, sem que haja medidas de alívio fiscal conjugadas com a fixação de um regime de preços máximos.
A proposta de lei, prolongando algumas contribuições, não altera este quadro de uma política fiscal forte com
os fracos e fraca com os fortes.
Aplausos do PCP e do PEV.
Entretanto, assumiu a presidência o Presidente, Eduardo Ferro Rodrigues.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do PSD, o Sr. Deputado Duarte Pacheco.
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A apresentação desta proposta de lei prova, à saciedade, a complexidade do sistema fiscal português. Se
tivéssemos um sistema fiscal simples, com impostos e as suas taxas, todos sabíamos o que tínhamos de pagar,
um investidor sabia o que tinha de pagar, de uma forma clara e transparente.
Não tem sido essa a prática do legislador português: contribuições extraordinárias que, depois, passam a
permanentes; adicionais sobre a contribuição extraordinária; adicionais aos impostos; contribuições especiais…
E, Sr. Secretário de Estado, se precisar, a língua portuguesa é rica e pode encontrar ainda outros adjetivos para
criar mais impostos para as pessoas e as empresas pagarem.
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Muito bem!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Infelizmente, não há coragem para dizer «nós precisamos de dinheiro, nós queremos dinheiro, queremos cobrar mais e por isso mesmo é que precisamos de manter ad aeternum taxas,
contribuições, adicionais», que foram criados, muitas vezes, para serem pontuais. E por isso mesmo é que
atingimos a mais alta carga fiscal de sempre em Portugal.
O Sr. Adão Silva (PSD): — É verdade!