26 DE NOVEMBRO DE 2021
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OSr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do Partido Ecologista «Os Verdes».
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Temos hoje para discussão um conjunto alargado de iniciativas legislativas com o objetivo de proceder ao alargamento dos dias de faltas
justificadas, por motivo de luto.
A primeira nota que Os Verdes querem deixar neste debate é para recordar que, apesar de ter sido o PS a
proceder ao agendamento desta importante matéria, o que naturalmente saudamos, o impulso processual
pertence à associação Acreditar, que promoveu e dinamizou a petição que hoje também está em discussão.
É uma petição de onde resultam, aliás, dois objetivos muito claros, por um lado, o de trazer para discussão
a necessidade de se olhar, com olhos de ver, para a situação dos pais e das mães que perdem os seus filhos,
o que, como referem os peticionantes, «é uma das experiências mais traumáticas para o ser humano», sendo
que, nessa circunstância, os pais «não estão em condições de regressar ao trabalho num espaço de tempo
tão curto como o de uma semana». O segundo objetivo da petição pretende que a Assembleia da República
tome medidas no sentido de alargar o período de luto parental.
Portanto, as primeiras palavras são para os subscritores desta petição, que, em nome do Grupo
Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes», aproveito para saudar, em especial, aqueles que
acompanham os trabalhos aqui connosco. É uma saudação que, naturalmente, se estende também à
associação Acreditar, que promoveu e dinamizou esta petição que incide sobre um assunto tão importante e
tão delicado.
De facto, todos nós reconhecemos que a perda de um familiar próximo é absolutamente dolorosa e,
tratando-se de um filho, a dimensão da dor não é suscetível de ser traduzida em palavras. Falamos de uma
perda que nós, seres humanos, não estamos preparados para aceitar. O vazio que se instala não é apenas
acompanhado pela dor que não cabe neste mundo, é ainda acompanhado por um conjunto de efeitos
psicológicos que nem o tempo consegue resolver.
Contudo, se todos reconhecemos a dimensão desse sofrimento, a dimensão dessa dor e o que representa
esse sentimento de perda, também todos reconhecemos que, perante uma situação destas, é de uma
crueldade sem tamanho obrigar as pessoas a regressar ao trabalho ao fim de cinco dias, como sucede hoje na
sequência, aliás, do que resulta das normas do Código do Trabalho.
Portanto, Os Verdes consideram que, nestas situações, é absolutamente imperioso proceder ao
alargamento dos dias de faltas justificadas ao trabalho, dando, pelo menos, mais tempo, para que as pessoas
possam enfrentar, com uma distância relativa, o seu dia a dia, o regresso ao trabalho. O que se pretende é dar
tempo às pessoas para lhes permitir ganhar algumas defesas e procurar forças para regressar ao seu dia a
dia.
Face ao universo de iniciativas legislativas que hoje temos pela frente, devo dizer que Os Verdes
acompanham, na globalidade, as propostas que visam exatamente alargar os dias de faltas justificadas, ainda
que tenhamos algumas reservas sobre propostas que, alargando o prazo, preveem que, a partir do sexto dia,
seja a segurança social a suportar o salário, como é o caso das propostas do PSD e do Iniciativa Liberal, que
não votaremos a favor. E temos reservas porque consideramos que devem ser as entidades patronais, até por
respeito e solidariedade para com o trabalhador, a suportar a retribuição dos dias de faltas justificadas, e não a
segurança social.
Portanto, com estas reservas e ressalvas, Os Verdes acompanham a globalidade das restantes propostas
em discussão, inclusivamente as propostas que pretendem preencher a lacuna do Código do Trabalho que diz
respeito à perda gestacional.
De facto, o Código do Trabalho não consagra qualquer período de faltas justificadas para os casos de
perda gestacional e Os Verdes também consideram que é necessário dar resposta a essa omissão. Isto
porque a perda gestacional também provoca sofrimento, dor e sentimento de perda e arrasta também consigo
consequências, do ponto de vista emocional, psicológico e físico. Portanto, também aqui se exige a
consagração de um período de recuperação, ou seja, é necessário trazer justiça também para as pessoas que
passam por essas situações.