7 DE JANEIRO DE 2022
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O Sr. Nuno Miguel Carvalho (PSD): — Mais tarde, Marta Temido pediu desculpa aos médicos a quem exigiu mais resiliência, porque admitiu que estavam no limite e era impossível exigir mais.
Mas o que a Sr.ª Ministra da Saúde não percebeu até hoje é que não exigiu apenas mais resiliência aos
profissionais de saúde, exigiu também mais resiliência aos doentes que não são diagnosticados nem tratados
porque o Serviço Nacional de Saúde está no limite, como alertam os próprios profissionais do setor.
No entanto, de nada servirá pedir desculpa às pessoas a quem hoje se falha com o tratamento, nem a outras
a quem hoje se falha com o diagnóstico.
Alexandre Lourenço, Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, afirmou que
«o que mais choca é saber que há hoje pessoas a viver com cancro e que a doença não foi diagnosticada.»
Sublinho: pedir a médicos que estão no limite da sua capacidade de trabalho para serem mais resilientes é
o mesmo que pedir aos doentes para serem mais resilientes. E, no futuro, de nada servirá um pedido de
desculpas deste Governo.
A primeira demissão no Centro Hospitalar de Setúbal ocorreu em agosto. O diretor do serviço de Obstetrícia
do Hospital de Setúbal, Pinto de Almeida, já tinha alertado, em fevereiro de 2020, antes da pandemia, para a
situação crítica que se vivia devido à falta de profissionais. O alerta foi seguido pela demissão do diretor clínico
e mais tarde pelas demissões de 87 médicos no Centro Hospitalar de Setúbal. O alerta final manifestou-se
através da demissão de vários diretores, em Braga, Santa Maria e Faro.
Protestos da Deputada do PS Ana Catarina Mendonça Mendes.
Este é o resultado de um Governo que tem a mente fechada para investir no Serviço Nacional de Saúde,
mas mantém a boca aberta para dizer que o defende.
Os alertas dos profissionais de saúde não foram ouvidos. E a razão pela qual foram ignorados reside na
visão e decisão de António Costa que, em julho de 2021, anunciava mais uma ilusão: a «libertação total da
sociedade» ocorreria a seguir ao verão. Com o suposto fim da pandemia anunciado pelo Sr. Primeiro-Ministro,
em forma de libertação total, o Serviço Nacional de Saúde já não seria tão necessário. Esta mesma declaração
de libertação serviu também de fundamento para o Governo dispensar o planeamento atempado das doses de
reforço até ao final do verão, com a consequente desmobilização dos centros de vacinação.
É óbvio que, nem em Portugal nem em qualquer outro Estado de direito, um Primeiro-Ministro não retira nem
concede total liberdade à sociedade.
Mas o que foi dito em junho foi um claro sinal do Secretário-Geral do PS que acha que a ameaça é perder
as eleições e esquece-se de que a verdadeira ameaça ainda é a pandemia e os efeitos devastadores que
provoca no País, muito particularmente na saúde, no emprego e no aumento do custo de vida.
Durante o mês de junho, enquanto António Costa anunciava a libertação total da sociedade e apontava para
previsões de crescimento da economia de 9%, um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico), publicado nesse mesmo verão, indicava que, em Portugal, o PIB (produto interno
bruto) percapita ainda vai demorar quase três anos para regressar aos níveis pré-pandemia e que o nosso País
será o terceiro mais lento do grupo dos mais desenvolvidos.
O Primeiro-Ministro quer declarar-se vitorioso no combate à pandemia, mas uma autodeclaração de vitória é
errada, não só porque a pandemia e os seus impactos ainda não terminaram, mas também porque quem vence
a pandemia é o esforço coletivo dos portugueses, não é António Costa.
O confinamento foi um esforço coletivo de grande sacrifício para os portugueses, não foi uma ordem de
António Costa. A vacinação ocorre devido à mobilização do País e não porque António Costa manda os
portugueses vacinarem-se.
A atitude correta do Governo seria focar-se nas decisões que habilitem o País a superar a pandemia. Por
isso, se o Governo queria reclamar méritos hoje, tinha de ter sabido tomar decisões no passado. Declarar o fim
da pandemia depois do verão não foi sequer uma má decisão, foi uma previsão errada.
Os desafios que o País enfrenta não permitem que a governação continue sem decisões firmes e se
mantenha ao sabor da maré, à espera dos ventos que possam soprar da esquerda ou à espera dos ventos que
possam soprar da direita. Estar à espera de ventos que possam soprar da esquerda ou da direita, claramente,
é deixar um país à deriva.