4 DE MARÇO DE 2022
11
estava a falar. Falei do exemplo dos campos de golfe que há muito tempo deviam ter essa obrigação, como têm
noutros países, mas aqui não têm, e falei-lhe, por exemplo, da limpeza de ruas, da limpeza urbana, coisas que
advêm também de práticas que o Ministério do Ambiente poderia, e deveria, zelar para que acontecessem e
não o fez.
Ora, creio que há aqui uma crítica e o Sr. Ministro deveria ter a seriedade de reconhecer que o Governo não
geriu, como deveria ter gerido, um dos pontos fundamentais que é tornar a água circular também no que é o uso
humano.
Sr.ª Ministra da Agricultura, gostava de utilizar os segundos que me faltam para lhe fazer um conjunto de
perguntas.
Registei que a Sr.ª Ministra deu uma resposta ao PSD dizendo que um dos problemas mais reais da seca
nestes dias se prende com a alimentação animal. No entanto, na sua primeira intervenção, não teve uma única
palavra sobre a matéria, sendo curioso como foi na resposta a um grupo parlamentar que o identificou.
Ora, sobre isso gostava de lhe colocar várias perguntas porque elas ficaram sem resposta. Primeiro, que
apoios é que podem existir para essa alimentação animal, como é que vão ser distribuídos e, acima de tudo, e
este ponto é fundamental em todas as políticas do Ministério da Agricultura, que garantias de equidade existem
na sua distribuição?
Eu disse que este ponto é fundamental, porque olhamos para vários dos exemplos que deu aqui de resposta
às questões da seca, por exemplo, o uso de sistemas de rega mais eficientes e percebemos que ele é logo
direcionado para os setores que atualmente já são os mais produtivos e os mais rentáveis da agricultura nacional
e não para ajudar a uma transformação da nossa agricultura, nomeadamente àqueles que têm ficado para trás
porque não são tão rentáveis, porque não são tão produtivos.
Dito de outra forma: são as atividades intensivas, sempre, repito, sempre, preferidas pelo Governo que, mais
uma vez, vão ser beneficiadas com este apoio e creio que isso não é sustentável.
Quando falamos de seca temos de falar do uso da água, mas também da função dos solos e, desse ponto
de vista, tornar os solos, apenas e só, rentáveis para as tais culturas intensivas não é uma perspetiva de futuro,
de reposta a alterações climáticas, de resposta a períodos de seca.
Mais, refiro o exemplo concreto que não referi ao Sr. Ministro do Ambiente, mas poderia tê-lo feito: no Algarve,
qual é a racionalidade ambiental e agrícola — a económica percebo! — de estar a haver um aumento da
expansão da área para produção de abacate exatamente no sítio do País que menos água tem disponível quer
para consumo humano quer para a agricultura? Não faz sentido, mas porque é que está a acontecer? Porque
não há um pensamento estruturado sobre esta matéria.
Para terminar, a Sr.ª Ministra diz: «Bem, mas, face à guerra que ninguém desejava, mas que está a
acontecer, face à conjuntura mundial em que há escassez de bens, temos uma resposta pela soberania
alimentar nacional e europeia.» Mas nós vemos que na cultura intensiva…
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Deputado. Tem de concluir.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Vou concluir com esta frase, Sr. Presidente: na cultura intensiva, à qual o Governo tem dado primazia, é exatamente na parte da soberania, nessa pluralidade de alimentação que
podemos ter, que o Governo falha já que é sempre aos mesmos, olival e amendoal, e por vezes também ao
abacate, que sai o brinde.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.
A Sr.ª Ministra da Agricultura: — Muito obrigada, Sr. Presidente. Muito obrigada, Sr. Deputado, pelas questões que me colocou.
Gostava de começar por dizer que esta crise em que nos encontramos, provocada pela seca e aumentada
pelos custos de produção, tem de ter, de facto, uma resposta imediata. Por isso mesmo, o Governo criou um
conjunto de medidas imediatas para dar resposta a esta situação.
Dir-me-á o Sr. Deputado que as medidas ainda são poucas. Está, neste momento, em processo legislativo a
criação de uma linha de crédito de médio e longo prazo, de três anos com um ano de carência; já há uma de
curto prazo, com uma grande bonificação para o Estatuto de Agricultura Familiar. Mas, a partir de ontem, desde