4 DE MARÇO DE 2022
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Estão errados, certamente, os agricultores que não têm pastos para alimentar o gado, ou confundidas as
populações que veem as barragens vazias, ou baralhadas as populações que são abastecidas através de
cisternas. Talvez não percebam nada disto os especialistas do IPMA que dizem que 90% do território está em
seca severa ou extrema.
As alterações climáticas são um dos maiores desafios para a humanidade, pois todas as atividades humanas
dependem de funções de ecossistemas que se encontram gravemente ameaçados pelo aumento da
temperatura e pela alteração dos padrões de clima que já se fazem sentir. É urgente mitigar os seus efeitos.
A água é um recurso natural essencial, um elemento fundamental ao equilíbrio existente nos sistemas
terrestres, com valor na dimensão ambiental, social e de desenvolvimento. A água é um direito de toda a
humanidade, e, por isso, reforçamos a ideia de que é inconcebível que a gestão do seu aproveitamento, do
abastecimento público e do saneamento seja feita em função de lógicas de obtenção de lucro. Assim, somos
frontalmente contra a privatização do setor da água ou da concessão e gestão a privados. Estes dias
encarregam-se de nos dar razão.
Tal como consideramos grave que, ao invés da prometida viabilidade de uma agricultura sustentável, se
tenha favorecido e continue a favorecer a implantação de monoculturas de eucalipto e o aumento da promoção
das culturas superintensivas como o olival, o amendoal ou a pera-abacate, com consumos escandalosos de
água em zonas onde a sua escassez é óbvia e o risco de empobrecimento dos solos é considerável.
Para responder aos problemas de hoje, Os Verdes relembram que é necessário garantir o caudal ecológico
dos nossos rios, promovendo a sua recuperação e a restauração ecológica dos ecossistemas ribeirinhos.
É premente a renovação e a manutenção de condutas para abastecimento de água para que se controle
situações de perdas no transporte.
É urgente a cobertura de todo o território por uma rede pública de saneamento, com tratamento adequado
das águas residuais, de forma a evitar a contaminação dos recursos hídricos, os impactos na saúde pública e a
degradação dos ecossistemas.
Falam-nos de planos e de concretizações. Todos os planos, estratégias, medidas, projetos e boas intenções
cabem no papel, a questão é se serão colocados em prática. Mais: a questão, Sr. Ministro do Ambiente, é se as
opções políticas para o futuro, como os projetos mineiros de exploração de lítio e minerais associados, perto da
barragem do Alto Rabagão, são opções viáveis relativamente à gestão da água.
Desta barragem, que está quase vazia, sairão 200 m3 de água potável por dia para abastecer a mina e irão
sair mais 5000 m3 de água bruta por dia, caso as ribeiras não tenham água. Esta água é imprescindível para o
funcionamento do complexo mineiro.
Perguntamos: são projetos como este, que irão agravar o problema do acesso à água — e permita-me que
o cite, Sr. Ministro, «porque é mesmo ilusório que vamos ter mais água no futuro» —, que o Governo irá manter?
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática. Se entender, poderá deixar tempo de resposta para a Sr.ª Ministra da Agricultura. O Governo gere o tempo como
entender.
Tem a palavra, Sr. Ministro.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, a solução que apresentou aqui é uma solução que desconheço. Imagino que seja aquela que está no estudo de impacto
ambiental da mina, que estará a ser avaliada pela Agência Portuguesa do Ambiente e que, certamente, de forma
rigorosa, dirá o que pensa sobre este processo.
Sr.ª Deputada, concordo inteiramente consigo. Sou completamente contra a privatização dos serviços de
água, sendo que, como sabe, a responsabilidade por levar a água à torneira das famílias e até das empresas é
das autarquias. E, de facto, o poder local é mesmo uma das grandes conquistas de Abril e as autarquias têm
todo o direito a pensar de forma diferente daquela que eu penso. Penso desta maneira, ou seja, sou contra a
privatização dos serviços de água.
Protestos do Deputado do PCP João Dias.