I SÉRIE — NÚMERO 35
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Estas mudanças vão exigir aos decisores políticos dos vários níveis de governação, do nacional até ao das
freguesias, medidas efetivas para que se caminhe para um uso mais sustentável da água. Temos de gerir melhor
os nossos sistemas de abastecimento de água. É isso que o Governo tem vindo a fazer ao incentivar a
agregação de vários sistemas, tornando-os mais eficientes e mais sustentáveis.
Temos de encontrar novas origens de água, como a dessalinização, por exemplo no Algarve, ou o tratamento
de águas residuais, tão essencial para o uso eficiente de água, nomeadamente nos territórios a sul do País,
como o Alentejo e o Algarve.
Sr. Ministro, a pergunta que lhe quero fazer tem que ver com investimento. No atual Quadro Comunitário, o
PT 2020, que está já na sua fase final, julgo que não existe nenhuma rubrica de investimento para o tratamento
de águas residuais. O que gostaria de saber é se no próximo Quadro Comunitário de Apoio, que já foi negociado
pelo Governo do Partido Socialista, está previsto algum investimento para o tratamento de águas residuais.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Hugo Pires, é mesmo como diz. Sinto que temos, de facto, a obrigação política de que se faça a adaptação no
sentido de garantir que não vamos ter menos água, porque há um hábito centenário da utilização, para diversos
fins, dessa mesma água. Mas, ao fazer esta afirmação, não tenho ilusões face à pouca pluviosidade prevista,
porque a água tem sempre nela origem, mesmo que esteja nos nossos aquíferos.
Por isso, Sr. Deputado, teremos essencialmente de agir do lado da procura. É mesmo agindo do lado da
procura que temos de concentrar a nossa ação, isto é, reduzindo, comprimindo, permitindo, pelo menos, que
ela não aumente. E essa é uma ação que extravasa muito, se quiser, a ação política do Ministério do Ambiente
e até extravasa muito a ação política de quem concretamente — as autarquias — faz a gestão do dia-a-dia dos
seus sistemas. Vai muito para além disso e, quando assim é, torna-se necessário um compromisso grande,
mas, por muito grande que esse compromisso seja, tudo é mais prolongado no tempo, tudo é mais complexo,
porque são muitas as tensões que aqui se gerem. É mesmo essa gestão que temos vindo a fazer.
Indo ao encontro da sua pergunta em concreto, gostaria de dizer que, sendo a verdade, por ser novidade e
porque em momento algum eu disse que a água residual tratada deveria ser utilizada apenas para a rega da
agricultura, como disse o Sr. Deputado do Bloco de Esquerda — dei apenas o exemplo da ETA (Estação de
Tratamento de Água) da Magra —, é evidente que a água residual tratada, como já referi, tem como usos todos
aqueles que são possíveis, mesmo até para uso humano, exceto para beber. Não quer dizer que, em alguns
casos, isso até não possa acontecer, mas temos de reconhecer que não é por aí que devemos começar. E, por
isso, para tudo o que sejam lavagens, limpeza de ruas, funcionamento de chafarizes, rega de jardins ou de
outros prados urbanos, de preferência com cada vez menor intensidade hídrica, devem mesmo ser utilizadas
essas águas residuais. Temos experiências!
Como esta matéria é mesmo recente — e eu nunca disse que há seis anos não era de esperar que viesse a
seca, disse, sim, que há seis anos falar de utilização de águas residuais tratadas era mesmo, apenas e tão-só,
um tema académico —, recordo que a diretiva só foi aprovada depois, aliás, logo no mês a seguir a eu ter
chegado, e que só depois disso é que houve lei e projetos em Portugal e só depois disso é que houve
investimento, apesar de termos conseguido 4 milhões de euros que não estavam previstos neste Quadro
Comunitário de Apoio. E, repito, não se trata de crítica nenhuma a ninguém. Tenho a certeza de que, ao longo
do próximo Quadro Comunitário de Apoio, irão certamente surgir necessidades de investimento que hoje não
imaginamos e, por isso, será necessário corrigi-lo. Foi isso que eu disse e não o que disseram que disse, ou
seja, que as águas residuais eram só para regar culturas permanentes.
O próximo Quadro Comunitário de Apoio vai aumentar o investimento no setor da água e no ciclo urbano da
água de 800 para 1000 milhões de euros no mesmo período de tempo. E deixe-me que lhe diga, Sr. Deputado,
que, no que diz respeito ao ciclo urbano da água, se calhar esta é a nossa última oportunidade para completar
os investimentos que temos para fazer.
Já veio muito dinheiro para Portugal e foi, todo ele, bem investido, porque, de facto, o nosso atraso era muito
grande. Mas somos mesmo um caso de sucesso na Europa e mundo fora, no que diz respeito à recuperação