I SÉRIE — NÚMERO 35
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A agricultura tem sabido evoluir no uso eficiente da água. Temos um cada vez maior índice tecnológico, com
instrumentos de precisão inovadores, implementando novas variedades, demonstrando que estamos a utilizar
mais eficazmente a água disponível, diminuindo muito as suas perdas.
Em suma, para superar a seca, temos de aumentar a nossa capacidade de armazenamento, aproveitando
toda a água da chuva, quando esta ocorre, para a disponibilizarmos nos períodos de seca, como este que
vivemos, e continuar a avançar num cada vez maior uso eficiente da água.
No entanto, este é um momento de emergência, Sr.a Ministra, pois grande parte das culturas de inverno estão
perdidas. Não há pastagens para alimentar os animais. É necessário promover e garantir o abeberamento dos
animais.
Repito, este é mesmo um período de emergência, pois acresce a esta grave situação de seca a crise que já
se fazia sentir com o aumento dos fatores de produção — como hoje já aqui foi amplamente referido, por exemplo
em relação aos fertilizantes — e, agora, Sr. Deputado, pior com esta estúpida e criminosa guerra na Ucrânia,
que vem agravar a situação e que não tem nenhuma justificação.
É urgente uma resposta da Europa aos países do sul, nomeadamente a toda a Península Ibérica, onde estes
efeitos se fazem sentir com maior incidência.
Não, não é um problema só nosso, é um problema de todos, é um problema de toda a União Europeia. Por
isso, Sr.a Ministra, além das medidas urgentes que já aqui referiu que vai tomar, pergunto-lhe: para mitigar os
efeitos nefastos desta seca, que medidas vai propor em Bruxelas para ajudar a nossa agricultura e os nossos
agricultores?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para concluir este debate, tem a palavra a Sr.a Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.
A Sr.ª Ministra da Agricultura: — Sr. Presidente, Sr. Deputado, muito obrigada pelas questões aqui levantadas.
Gostava de começar por lhe dizer o seguinte: entregámos, juntamente com Espanha, ao Sr. Comissário da
Agricultura um conjunto de quatro propostas em concreto.
Por um lado, o aumento das percentagens de adiantamento dos fundos que os agricultores receberiam em
dezembro e que, por antecipação, nos últimos anos, recebem em outubro, à razão de 50% nos pagamentos
diretos, que pedimos para passarem a receber a 70%; e, no desenvolvimento rural, pedimos para passar de
70%, que receberiam por norma, para 85%.
O Sr. João Dias (PCP): — Já disse isso três vezes!
A Sr.ª Ministra da Agricultura: — Por outro lado, pedimos à Comissão Europeia para que as áreas que estão em pousio possam ser utilizadas para o pastoreio; pedimos para derrogar a prática de diversificação de
culturas; e, por último, pedimos o apoio direto aos agricultores afetados por esta crise.
Lembro que — há pouco não mencionei estes números —, aquando da COVID, fizemos uma medida
semelhante, tendo a Comissão dito que podíamos utilizar 2% do pacote do desenvolvimento rural para este
efeito. Foram 71 milhões de euros destinados forfetariamente aos agricultores afetados pela pandemia. Agora,
esperamos também indicação da Comissão sobre a forma como podemos ajudar os agricultores portugueses a
fazer face aos impactos da seca.
Tal como tive oportunidade de dizer, Sr. Deputado, o gabinete de planeamento está a estudar com os setores
e a acompanhar os mercados agrícolas, para podermos saber efetivamente e de forma justa a quem é que estes
valores têm de ser atribuídos. Para já, a resposta que lhe posso dar é a de que será para o setor pecuário, para
fazer face ao aumento do preço das rações. Também já hoje aqui mencionei que de 2020 para 2021 aumentaram
53%. Portanto, temos de estar, efetivamente, atentos a este fator.
Também queria dizer-lhe o seguinte, Sr. Deputado: ontem, na reunião do Conselho de Ministros, que foi
convocada extraordinariamente para discutir os impactos que a situação entre a Ucrânia e a Rússia já estão a
acartar também para a agricultura europeia, foi decidido, em primeiro lugar, que temos de fazer tudo para garantir