4 DE MARÇO DE 2022
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dos indicadores de qualidade da água para os humanos e também na rejeição dos efluentes. Já dei esse número
e repito-o: em 20 anos, passámos de 65 bandeiras azuis para 262. Como imagina, não foi a água do mar que
melhorou, foi mesmo o tratamento dos esgotos que permitiu a melhoria das águas balneares.
A nossa previsão é a de que seja de 57 milhões de euros o investimento que virá a ser financiado durante o
próximo Quadro Comunitário de Apoio, o que significa multiplicar por 14 vezes a verba que depressa
conseguimos encontrar. A estes 57 milhões de euros ainda podem acrescentar-se, como adquiridos, os 23
milhões de euros para o Algarve, para a melhoria das condições de tratamento de 6 a 7 ha, que vão permitir
depois a sua utilização direta, entre outras coisas, para regar campos de golfe.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para formular perguntas, tem a palavra, ainda pelo Grupo Parlamentar do PS, o Sr. Deputado Pedro do Carmo.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, ao chegar ao final deste debate, é preciso dizer — nunca é demais — que vivemos um momento difícil.
Vivemos um período de seca extrema, embora as secas em Portugal sejam uma constante registada nas
últimas décadas. A verdade é que se sentem cada vez com maior frequência, com maior intensidade e com
maior longevidade. Senão vejamos: ao nível da temperatura, dos 10 anos mais quentes, 7 ocorreram desde
1990; ao nível da precipitação, 5 dos 10 anos mais secos ocorreram depois de 2000. É, portanto, evidente o
agravamento desta situação.
No nosso País, a precipitação sazonal apresenta grande variabilidade, com diminuição na primavera, no
verão e no inverno e um aumento no outono, o que representa uma redução do período de inverno e a
antecipação da primavera, provocando, assim, uma influência direta nas culturas de inverno no nosso clima
mediterrânico.
Fica evidente que as alterações climáticas estão a fazer-se sentir e a ter como consequência um
agravamento da seca e da desertificação, maioritariamente no interior do País, nomeadamente no território
alentejano. Estes são os factos.
Mas o que é que devemos fazer para superar esta adversidade? Qual deverá ser a nossa atuação no futuro,
especificamente nos territórios mais afetados? Primeiro, reconhecer e replicar os bons exemplos. Sim, falo do
Alqueva. O Alqueva é um bom exemplo de como fazer frente à desertificação e permitir uma agricultura
altamente produtiva.
Não posso deixar de recordar alguns comentários desfavoráveis aquando da construção da barragem, em
que muitos referiam, entre outros problemas, o impacto climático que esta iria provocar na região, que seria
altamente prejudicial para as culturas. Nada, nada de mais errado! Vinte anos depois, podemos afirmar, com
toda a certeza, que o Alqueva transformou a região do Alentejo e evitou uma maior desertificação há muito
anunciada.
A grande barragem do Alqueva produz energia e disponibiliza água para a agricultura e o consumo humano.
Conclusão: devemos replicar este modelo noutras regiões do País, complementando, assim, o Programa
Nacional de Regadios, e temos o exemplo da barragem do Pisão.
O Sr. João Dias (PCP): — Grande coisa! 10%!
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Sr.as e Srs. Deputados, a pouca água que chove não pode ser desperdiçada e só existe uma forma de a aproveitar, que é retê-la em charcas e barragens.
O caminho não é culpar a agricultura. A agricultura é alimentação, a agricultura é sustentabilidade, a
agricultura é vida, é ecologia, é fixação de pessoas no território. Só podemos evitar, de forma eficaz, a seca com
uma agricultura sustentável e com agricultores motivados, porque não é solução deixar de produzir para justificar
a redução dos consumos de água, para, em seguida, importar esses mesmos produtos de outra região do
mundo, criando a ilusão de que o problema deixou de existir. Não, não deixa de existir só porque não é à nossa
porta, Srs. Deputados.