I SÉRIE — NÚMERO 38
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amanhã, hidrogénio verde ou outro gás renovável — e a própria França fez hoje uma declaração inequívoca
sobre ter retirado qualquer objeção ao desenvolvimento desta interconexão.
Última dimensão: independentemente daquilo que são os investimentos de médio prazo nas energias
renováveis e nas interconexões, há uma decisão de curto prazo que tem que ver com a intervenção urgente
no preço da energia.
Em primeiro lugar, existe uma medida transversal — que julgamos ser da maior urgência e importância —
que tem que ver com a redução do IVA (imposto sobre o valor acrescentado) sobre todos os produtos
energéticos. Portugal já a pediu formalmente à Comissão Europeia e defendemos que a Comissão deve
liberalizar de um modo transversal essa autorização para que todos os Estados a possam aplicar, na medida
das suas capacidades.
Em segundo lugar, é necessária uma intervenção nos mecanismos de formação do preço de mercado. Há
várias soluções que têm vindo a ser discutidas. Como sabem, há uma proposta na qual Portugal e Espanha
trabalharam — e da qual Espanha, ao contrário do que vi na imprensa, não se afastou — com o apoio da
Comissão Europeia e de outros países, designadamente da Itália, da Grécia e de outros que se têm vindo a
juntar. Essa intervenção visa a fixação de um teto máximo para o preço de referência do gás, de forma que
possamos, por essa via, evitar a contaminação do preço da eletricidade pelo crescimento não controlado do
preço do gás. Mais: procura-se não fixar um preço de mercado que ponha em risco o abastecimento de gás —
algo que não nos afetaria a nós em particular, mas que afetaria muitos dos países europeus, por exemplo a
Alemanha, que são altamente dependentes do gás. A fixação de um preço de referência com o pagamento de
um referencial ao preço de mercado é uma solução bem equilibrada que, julgamos, pode resolver o problema
e temos vindo a trabalhar com os outros Estados-Membros e com a Comissão Europeia nesse sentido.
Também é preciso não ignorar as outras consequências económicas desta crise e lembrarmo-nos do que
fizemos bem na crise da COVID-19 e perceber o que é que podemos fazer bem de novo. Foi essencial termos
um mecanismo de estabilização, e o SURE (Support to mitigate Unemployment Risks in an Emergency) foi um
mecanismo da maior importância, num momento de crise da procura, para financiar, no nosso caso, o layoff,
para que as empresas pudessem parar a sua atividade num momento em que não havia procura, sem perda
dos postos de trabalho. Neste momento, não há um problema na procura; há um problema no custo da oferta.
E a medida necessária de estabilização é uma medida que permita intervir no financiamento e nos auxílios de
Estado às empresas, sobretudo as que são intensivas em energia, de forma que não parem a sua atividade.
Por isso, a derrogação das regras em matéria de concorrência de auxílios de Estado, quer na indústria, quer
na agricultura, é absolutamente imprescindível.
Por fim, é necessário pensar em mecanismos de compra conjunta, tal como fizemos com as vacinas, de
forma a assegurar quer a estabilidade, quer o acesso a produtos essenciais, quer a minoração do impacto do
preço. Não falo só da energia, falo também de vários componentes fundamentais na fileira do agroalimentar, a
começar nos fertilizantes e em outras substâncias indispensáveis ao desenvolvimento da agricultura no
espaço da União Europeia.
Em síntese, no contexto muito diversificado deste Conselho, os temas em debate serão a condenação, o
reforço eventual das sanções e das medidas de apoio à Ucrânia; a necessidade de afirmarmos a
complementaridade da defesa europeia no quadro da NATO e da União Europeia; a determinação de medidas
de médio prazo na energia para acelerar a transição para as renováveis e as interconexões; e a determinação
de medidas de curto prazo para estabilizar e, sobretudo, reduzir o preço da eletricidade, tendo em conta as
outras consequências económicas, quer com o mecanismo de estabilização de auxílio direto às empresas,
quer com medidas que seja necessário adotar para assegurar o abastecimento e a inexistência de falhas de
mercado no conjunto da União Europeia.
Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância quanto ao tempo.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Primeiro-Ministro. Para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do PS, tem a palavra a Sr.ª Deputada Constança Urbano
de Sousa.